Por que o aumento do IPI é um grande erro?

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Por Stephan Keese
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Algumas semanas atrás, o governo brasileiro anunciou sua mais recente medida para "fortalecer e proteger" a indústria automobilística brasileira com o aumento do IPI sobre veículos importados. Esta medida foi pensada para proteger a indústria nacional, a partir da crescente importação de veículos. Com o aumento da tributação sobre os veículos importados (que varia entre 37% e 55%), o aumento da participação destes veículos nas vendas deverá ser impactado, e, portanto, a posição dos fabricantes brasileiros será reforçada. Não há dúvidas de que a medida vai funcionar. As montadoras com maior participação de importados em seu portfólio já estão revendo suas projeções para 2012 para um volume até 25% menor, voltando aos níveis de 2009 ou 2010. Veículos brasileiros e argentinos vão ganhar participação no mercado em 2012, e os importados se tornarão significativamente mais caros que seus competidores de fabricação nacional. Até aqui tudo bem. Mas e quanto às outras consequências? Essa medida foi introduzida com base no argumento de que é necessário proteger o emprego local. À primeira vista, isso parece verdade. No entanto, uma vez que uma análise é feita desconsiderando obviedades (e influência política), o trabalho brasileiro nunca esteve ameaçado pelo aumento da importação e essas medidas acabam por mais ferir do que proteger o emprego nacional. Primeiro, a demanda brasileira ainda crescerá em um ritmo acelerado de aproximadamente 6% nos próximos 5 ou 6 anos, proporcionando amplas oportunidades de crescimento tanto para produtos locais quanto para importados. Em segundo lugar, a maioria das montadoras impactadas pela medida (Hyundai, Toyota, montadoras chinesas e até mesmo marcas de luxo como a BMW) estão configuradas para localizar sua produção e reduzir sua dependência de produtos importados no curto prazo. Alguns destes planos terão de ser adiados, uma vez que é muito mais difícil de se construir rapidamente a participação de mercado que viabilize produção local com vendas anuais em torno de 30 mil unidades.E é este atraso que realmente afeta os empregos daqui.
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Terceiro, é importante também notar que o emprego na indústria automobilística brasileira não vem somente da fabricação e da montagem de veículos. Ele também vem dos processos de importação, logística, concessionárias, serviços e peças de reposição. Com um declínio (ou, pelo menos, estagnação) dos veículos importados, muitos empregos nessas áreas podem realmente ser perdidos. Com certeza, as concessionárias de marcas importadas enfrentarão um 2012 muito difícil, com redução significativa do volume de vendas e, consequentemente, das margens de lucro, afetando qualquer disposição para investir no Brasil. Outro argumento importante ao longo da introdução das novas regras do IPI era o de que os preços dos produtos locais ao consumidor permanecerão inalterados. Se isso é verdade, só o tempo dirá. Pessoalmente, estou reticente quanto a essa afirmação de que as montadoras locais não aumentarão o preço, ainda mais agora que os modelos de seus competidores se tornaram significativamente mais caros. E o consumidor, por sua vez, passará por mais apuros do que nunca para comprar carros modernos e bem equipados a preços minimamente justos. De modo geral, acho muito triste o fato de que o Brasil está voltando a uma época de protecionismo para a indústria automotiva. Sem dúvida, algo deve ser feito para fortalecer a competitividade da indústria local. No entanto, a resposta não pode estar em uma estratégia defensiva que cause mais males do que benefícios. Somente com mais investimentos e menores custos de produção que a indústria brasileira poderá se manter competitiva – e não com o aumento das barreiras de importação. Esta medida está prejudicando o reconhecimento do Brasil no mundo e não ajudará a indústria local a superar as suas desvantagens competitivas. Stephan Keese é sócio responsável para o segmento automotivo da Roland Berger Strategy Consultants

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