Por Júnior Almeida
A década de 1980 se mostrou promissora para a FIAT. Ela, que até o fim da década anterior contava apenas com o 147 e suas variações – a perua Panorama, a picape e o furgão Fiorino -, que atendiam à demanda do segmento de veículos compactos, fazendo frente a modelos já consagrados no mercado. Mas os revendedores se queixavam pelas poucas novidades na gama da marca. Não que as vendas estivessem baixas, mas a FIAT precisava de um ar de novidade. E como resolver isso?
A marca ítalo-brasileira resolveu apostar em um mercado que até então era pouco explorado: o dos veículos três volumes. Por mais ilógico que possa parecer hoje em dia, a preferencia era por modelos duas portas. Em 1981 a Volkswagen apresentara a primeira variação do Gol, o Voyage com propulsor 1,5 litros refrigerado a água oriundo do Passat, que dotado de carburador de corpo simples rendia 65 cv e 11,5 m.kgf de torque. O porta-porta-malas com capacidade muito acima do hatchback, com 460 litros, era destaque. Para enfrentar Chevette e Voyage, a FIAT apresentou em maio de 1983 o três volumes Oggi, a variação sedã do 147. O sedã compacto foi concebido sobe a plataforma do Panorama para que o problema de espaço não assombrasse o Oggi, e a dianteira veio emprestada do Spazio. A traseira alta, revelava um estilo próprio que se aproximava do luxuoso Alfa Romeo 2300, e ajudou a alcançar os 440 litros de capacidade do porta-malas. Para um carro de apenas 3,96 m de comprimento o incrível espaço interno conseguido pela engenharia da marca que surpreendeu quem entrava em contato pela primeira vez com o Oggi, e isso foi destacado pela mídia especializada na época.
O estilo não era o dos melhores, mas era a clássica escola italiana. E o Oggi trazia características exclusivas como o vinco horizontal logo abaixo das janelas que percorre toda a lateral do modelo atribuindo um ar mais robusto ao modelo, terminando em um spoiler na tampa do porta-malas, Detalhes que a Fiat utilizou para conferir ao modelo “ares” mais requintados. O interior era idêntico ao restante da família Fiat. No Oggi o painel, volante, acabamento e bancos dianteiros eram reaproveitados, mas o assento traseiro era mais anatômicos e os estofados eram forrados em veludo com padronagem cinza e preta, além do carpete navalhado. Uma curiosidade fica por conta de um porta-pacotes atrás do banco traseiro, algo como no Volkswagen Sedan feito no mesmo material do painel. O Oggi trouxe inovações mecânicas para a linha de propulsores Fiat. Nele foi apresentado exclusivamente para a versão a álcool a válvula Thermac, que fica na entrada do filtro de ar. Quando o motor está frio ela faz com que o ar que vai para o carburador seja aspirado através de um tubo que passa pelo coletor de escapamento. A válvula vai fechando essa tomada de ar, e abrindo a tomada principal, permitindo a entrada do ar mais frio de modo que a temperatura da mistura ar combustível seja constante. Esse sistema permite que a dirigibilidade melhore, principalmente com o propulsor frio, e ajuda a aquecê-lo rapidamente.
O brilho dos olhos da Fiat era, no entanto, o carburador com sistema cut-off. O dispositivo comandado por uma pequena central eletrônica instalada ao lado da bobina. O funcionamento era simples: um pequeno relé eletromagnético corta a entrada de combustível para o giclê de baixa rotação quando o motorista tira o pé do acelerador, e o resultado é uma maior economia de combustível, principalmente nas rodovias. O desempenho do Oggi não é surpreendente, mas equivalente aos outros modelos da marca naquela altura, por conta do peso e tamanho pouco diferente. O sistema cut-off em nada ajuda ou atrapalha em desempenho, apenas se percebe-se que ‘segura’ mais o automóvel, ou seja o freio motor aumenta um pouco. Mas quando o motor chega aos 1.400 rpm ele fica ‘livre’ como se não houvesse o sistema.
Em relação a Panorama, a suspensão dianteira foi rebaixada em cerca de 30mm para nivelar a frente com a traseira, já que o modelo não levará tanta carga quanto a perua. O Oggi, é incrivelmente confortável em pisos irregulares sem deixar de ter as características já vistas em familiares. Mas as bitolas mais largas e os pneus 145 SR 13 deixaram o sedan ainda mais estável. Oferecido em uma versão única, CS, com duas opções de motorização, álcool e gasolina começando em CR$ 2.791,140 – hoje mais ou menos R$ 76.900 – ele possuía diversos opcionais: cambio de cinco marchas, ignição eletrônica, vidro traseiro com resistência térmica, temporizador dos limpadores de para brisa, vidros laterais traseiros basculantes, retrovisor externo com controle interno e relógio, além das cores: grafite, prata e ver além de preto. Completo chegava a CR$ 3.049,90. Duas séries especiais vieram para marcar a exclusividade do modelo. Comercializada de janeiro a março de 1984, a serie “Pierre Balmain”, em homenagem ao designer de roupas francês, a série era baseada na versão CS com itens exclusivos como a cor bege áurea, com acabamento interno monocromático, para-choques, grade, frisos e plásticos externos marrons, além do símbolo PB da grife no painel e inscrições laterais além de duas elegantes malas com design exclusivo do estilista.
No final do mesmo ano chegava a CSS (Comfort Super Sport), como forma de promover o Oggi e ao mesmo tempo transformá-lo em carro competitivo, para que a Fiat pudesse competir novamente no campeonato de Marcas e Pilotos. Com apenas 300 exemplares a CSS trazia a esportividade na pele. Logo no primeiro olhar, chamava atenção por estar disponível apenas na cor preta, com faixas adesivas vermelhas bem finas. Com rodas de liga leve e piscas dianteiros transparentes, o primeiro Fiat nacional com propulsor acima de 1,3 litro não ficava apenas na aparência esportiva. Na verdade eram 1.415 cm3, chegando a 1.490 cm3 nas unidades endereçadas às pistas. Com esse envenenamento, mais cabeçote especial, chegava à potência líquida de 78 cavalos.
Outras mudanças mecânicas estavam no câmbio de cinco marchas, com escalonamento mais curto e engates mais macios e justos, melhorando a esportividade e a condução que se tornara irreverente. Com 20.083 unidades comercializadas, o Oggi saiu de cena em 1985 dando lugar a uma variante do Uno, o Premio, que chegava para cumprir o mesmo papel do modelo, agora com duas portas a mais, mas utilizando basicamente as mesmas soluções mecânicas apresentadas pelo Oggi.
Júnior Almeida
www.esporteautomotor.blogspot.com
Os dias de Oggi
- Henrique Rodriguez
- 27/07/2012
- 12:46
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