As enrascadas automotivas na vida de um motorista

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Seu carro te deixou na mão. E você fez milagre para sair dali

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Todos nós que somos motoristas já passamos por diversos perrengues com nossos automóveis, não é mesmo? Se você não passou, provavelmente você não sai de casa direito. Ou não tem permissão para dirigir. Ou tem um Alfa Romeo SAAB. Considerações à parte, este que humildemente vos escreve passou recentemente por duas situações embaraçosas sobre rodas que se somam ao “baú de burrices do Renato”. Mesmo que a culpa nem sempre seja minha.

A primeira delas ocorreu há duas semanas. Estando de férias, me dispus por livre e espontânea vontade a ajudar um amigo com seu Fusca 1967, um projeto completamente Low Cost e que deve tornar o velho guerreiro, acima de tudo, operacional, a despeito de ter um imenso potencial de recuperação. Depois de um dia inteiro realizando reparos nos sistema de freio das rodas traseiras, retirando uma graxa velha e grossa que não deveria estar ali, saímos para comprar gasolina. Afinal, tínhamos utilizado alguns litros do líquido sagrado para servir de solvente para aquela lama negra que ocupava as entranhas do Fusca.

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Tudo bem, o Fusca já estava com tudo montado como bem deveria. Era uma saída rápida e voltaríamos para a faculdade, onde o carro estava passando pelas “cirurgias” citadas. Saímos por uma das mais movimentadas avenidas de Belo Horizonte às 18 horas, no ápice do rush. E o Fusca chegou sem muito esforço ao posto de combustível. Galões abastecidos, câmbio no neutro, movimenta-se o tambor da chave de ignição…e nada. O idoso alemão se recusava a sair do lugar. Ideia genial: vamos empurrá-lo ladeira abaixo, ainda que no horário de pico naquela tenebrosa via engarrafada. E assim o fizemos.

E quem disse que o infeliz concordava em dar a partida? Fim da descida, início de um viaduto de complicada logística caso fosse necessário empurrar o Volks. Não hesitei: virei a direita pegando uma rua secundária. Só que era um aclive e um ônibus vinha poucos segundos atrás querendo seguir sua trajetória por ali. Não tinha como dar certo, definitivamente. E mais um ponto, nesse aspecto, para meu baú de burrices. Com o carro parado, uma alma iluminada prontamente desceu do ônibus e ajudou tanto a mim quanto ao dono do carro a colocá-lo em uma posição favorável à passagem do coletivo. E que nos possibilitasse voltar de ré para a avenida.

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Sem o problema do ônibus bloqueado, era hora de bolar uma logística para: a) voltar com o Fusca de ré para a avenida; b) descer com ele no sentido correto do fluxo; c) rezar muito para que tudo desse certo. Com a habilidade de um controlador de tráfego aéreo de Congonhas, o dono do carro soube domar os semáforos naquele doloroso cruzamento. Fusca vindo de ré, sem problemas, primeiro item cumprido. Só me restou encher de coragem, apontar a frente do velho guerreiro para a descida, deixar que ele embalasse, pensasse nas forças celestiais que me abençoam, colocar segunda, soltar o pedal da embreagem, rodar o tambor da ignição, o farol do ônibus na traseira e…pópópópópó! Fiat Lux!

Só deu tempo de manobrar o Fusca, esperar o amigo-controlador de tráfego chegar correndo e esbaforido, acender os faróis e seguir nosso destino. Poucos minutos que podiam causar, sem sombras de dúvidas, o maior congestionamento do ano na capital dos mineiros devido ao um Fusca genioso. A causa do surto? Uma bateria velha que sofreu com o par de Cibié Sierra II que trabalham como refletores de estádio de futebol que estão pendurados no para-choque do VW.

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Uma semana depois, eu entraria numa fria novamente. E, desta vez, realmente uma fria literal. E por minha causa.

Além de escriba, estudante, micro-empresário, dublê de padre, amante semi-profissional e músico frustrado, este que vos incita decidiu fazer programas radicais depois de anos praticando o sedentarismo olímpico. E nada melhor para recomeçar do que subir o terceiro pico mais alto do Brasil. Ok, lá vamos nós. Coincidentemente, meu carro passou por uma série de intervenções, seja de manutenção preventiva ou de caráter corretivo. Portanto, nada mais natural que com a viatura nas pontas dos cascos, fosse ela a escolhida para a aventura.

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Um parênteses importante: meu carro, embora bi-combustível, praticamente nunca viu gasolina em seu tanque principal. Álcool é melhor pedida dada sua alta taxa de compressão e pela ineficácia de ajuste do ponto de ignição do mesmo quando abastecido com combustível fóssil. Então, revisão feita, pneus novos instalados, álcool no tanque e pé na tábua!

Com a proa apontada para o Caparaó, subimos até o ponto máximo onde os carros acessam para, dali, seguirmos rumo ao acampamento e depois para alcançar o topo. Missão cumprida, era hora de retornar. Eu e os dois companheiros de viagem posicionamos as bagagens imundas no meu carro, colocamos o cintos e…nada do carro funcionar. A 1870 metros de altitude. Em um parque florestal, embora bem movimentado. E os três cansados, doloridos e querendo o seio materno.

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Abri o capô e fui verificar o reservatório de partida a frio. Pois é, meu carro não indica no painel se o mesmo está vazio, eu me distraí antes de viajar…pois é. E o carro ficou estacionado sob temperaturas seguramente abaixo de 0° Celsius por duas noites. Sim, era a crônica de uma tragédia anunciada. Era descer até a cidade de Alto Caparaó de carona, pegar gasolina e subir novamente; ou tirar um coelho da cartola. Optei pela segunda opção.

Enquanto um dos companheiros montava o fogareiro utilizado na expedição, outro pegava água em uma caneca de alumínio que utilizamos para fazer café. Enquanto isso, eu tirava parte da tomada de admissão do carro, cobria o corpo de borboleta com uma luva para evitar a aspiração de elementos estranhos e localizava a linha de combustível do carro e a flauta com os bicos injetores. Dada a altitude, a água demorou alguns milênios para começar a evaporar, mas uma hora chegou a tal. Com o caneco em mãos e com os olhares incrédulos dos companheiros, simplesmente joguei água fervente com cuidado sobre as partes em que o álcool passaria, até que o mesmo atingisse condições ideais de vaporização e emulsificação.

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Com as partes devidamente aquecidas, fui ligar o carro. Em uma palavra: êxito. E o olhar incrédulo de outros ao redor, que não entendiam porque e como aquele cara sujo e com cara de cansado consertou seu carro com um banho de água fervente por cima do motor…

E essa foram as duas mais recentes desse gênero. Não que me orgulhe disso, mas já que coisas assim aparecem, por que não usar a sabedoria para vencê-las? E você, incauto leitor: já passou por alguma enrascada automotiva do gênero? O que tem de história para nos contar? Deixe seu comentário logo abaixo!

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