Única com câmbio manual, versão 1.6 não decepciona
Por Raphael Lovik
Guarujá/SP – Estou na Estrada Caminhos do Mar – mais conhecida como Estrada Velha de Santos – a caminho do Guarujá, no litoral paulista. Enquanto serpenteio com o renovado Peugeot 308 pelo “túnel” verde de belezas naturais me vem a cabeça a famosa canção de Roberto Carlos “As Curvas da Estrada de Santos“. Lá está o Parque Caminhos do Mar, uma unidade de conservação ambiental explêndida e rodeada por uma exuberante região de Mata Atlântica.
Voltemos a estrada. Calçada com pedras em 1913, foi a primeira rodovia da América Latina a receber pavimentação em concreto, na década de 1920, marcando o início da era do automóvel no Estado de São Paulo. Fechada em 1985 para circulação de veículos, passou a ser operada somente como estrada de serviço por empresas sediadas na área – entre elas a Petrobras.
“Eu piso mais fundo, corrijo num segundo” e o hatch médio encara o trecho sinuoso e escorregadio com certa facilidade e segurança. Os carros da Peugeot são conhecidos por ter um acerto de suspensão mais firme e voltado para quem gosta de ter o controle. A contrapartida era a perda do conforto em pisos mais irregulares. No novo 308, a fabricante deu uma amaciada no conjunto e diz ter achado o “melhor dos mundos”: uma calibração mais confortável, porém sem perder a estabilidade. Parece que deu certo…
Na primeira parada, mais história: Pouso de Paranapiacaba. Construída em alvenaria de pedra, tijolos e elementos de granito lavrado e circundado por varandas, a casa integra-se completamente à paisagem. Como homenagem a era automobilística, possui painel de azulejos pintados, retratando mapa do Estado de São Paulo e as estradas existente na época. Era um antigo ponto de parada de carros durante a viagem entre Santos e São Paulo. Paranapiacaba, em tupi, significa “local de onde se vê o mar”. Não pudemos ver o mar por causa da densa neblina, mas se a primeira impressão é a que fica, a do Peugeot 308 não deixa dúvidas: é uma tentativa estética de chegar o mais próximo da nova geração, que já roda na Europa.
Os executivos negam e apontam que o design é inspirado nos carros-conceitos Onyx e Exalt… Com os novos traços de estilo, o volume do capô se prolonga até a nova grade frontal, que agora abriga o logotipo do leão. Os faróis estão mais afilados e ganharam máscara negra. Novos LEDs diurnos completam o visual. Atrás, as lanternas agora são de LEDs e trazem três traços, simulando a garra de um leão. A grosso modo, o 308 reestilizado é uma cópia abrasileirada – por mais que o carro seja feito na Argentina – do 308 europeu.
A versão escolhida para este primeiro contato foi a “pé no chão” Allure 1.6, com transmissão manual de cinco marchas e que custa R$ 69.990. De acordo com a marca francesa, ela responderá por 50% do mix de vendas do 308. Confesso meu medo do motor – que equipa o hatch compacto 208 e o SUV 2008 – não dar conta do recado no 308. Mas os 122cv a 5.800rpm e torque máximo de 16,4kgfm a 4.000rpm – com etanol –, são suficientes para mover o modelo. Não espere a desenvoltura da versão Griffe, com motor 1.6 THP flex de 173cv, porém não há sensação de que falta motor. Ao utilizar gasolina, os números caem para 115cv e 15,5kgfm. A transmissão manual de cinco marchas também contribui – as relações são bem escalonadas e as trocas têm bons engates.
Por dentro, o 308 mudou pouco. O acabamento misturando partes emborrachadas e plásticos duros continua. Os bancos ganharam apoios laterais maiores e espuma mais confortável. De fato, o condutor fica mais “preso” nas curvas, tornando viagens mais longas menos cansativas. Atrás, há espaço para dois ocupantes. A adição de um terceiro pode comprometer. Já o porta-malas engole bons 430 litros.
Durante o test-drive de quase 150 km também foi possível notar outra ponto positivo: a lista de equipamentos de série. Esta versão de entrada tem seis airbags, freios a disco na quatro rodas, Isofix, teto panorâmico, ar-condicionado dualzone, piloto automático, rodas de liga leve de 17″ e sensores de estacionamento traseiros.
Destaque também para a central multimídia com tela sensível ao toque de 7″ que entra na moda do espelhamento de smartphones por meio do Mirror Link (Sony, Samsung e LG) e do CarPlay, para aparelhos da Apple. A estratégia, contudo, é manter o atual patamar de vendas do carro: entre 250 e 300 unidades/mês e 8% de participação no segmento, liderado por Ford Focus, VW Golf e Chevrolet Cruze.
A versão Allure ainda pode vir com o motor 2.0 litros de 151cv e 22kgfm de torque aliado ao câmbio automático de seis marchas, agora com relações 11% mais longas e novo conversor de troque. Juntos, tornam o 308 7,5% mais econômico. Nessa configuração o modelo ainda ganha controle eletrônico de estabilidade. Custa R$ 75.990 e responde por 20% do “mix”. A top é a Griffe THP Flex, de 173cv e R$ 82.990. Além de todos os itens acima, ela ainda traz rodas diamantadas, sensores de estacionamento dianteiro, bancos em couro perfurado e o sistema multímidia passa a ter GPS. Os itens são tantos que o tempo passa ao volante e os quase 150 km ficam rapidamente para trás. E como diz a música do Roberto: as curvas se acabam e na Estrada de Santos não vou mais passar.