Pergunta da Semana – Eu, você e os aerofólios

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Você curte aquela asa na traseira do seu carro?

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Aqui estamos novamente em torno de uma questão tão nebulosa quanto o sexo dos anjos, a cura da AIDS e a final da Copa de 1998. Fonte de eventuais milagres, muitas vezes se mostra um estorvo com consequências drásticas. E justamente para extrair o melhor da ação aerodinâmica que o protagonista da semana existe. Estamos falando dele, que modificou a história do esporte a motor, chegou aos carros de passeio e também mudou a história daquele vizinho seu que se acha o Dominic Toretto de Belford Roxo: A estrela da semana é o aerofólio.

Seu princípio de funcionamento é simples, regida pela equação de Bernoulli para escoamentos. Basicamente, quando um fluido está escoando e em um dado ponto sua velocidade aumenta, a pressão naquele local se torna menor do que a medida na vizinhança, para que uma constante matemática seja mantida. Desta forma, se o ar que escoa por baixo do carro está mais rápido que o ar que passa por cima da carroceria, temos uma menor pressão por baixo do veículo do que no ambiente sobre o mesmo. Daí, o efeito é um pulo: a pressão maior sobre a carroceria “empurra” o carro para baixo.

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Com uma força maior realizada sobre o automóvel, pode-se dizer que o mesmo fica mais “grudado” ao chão, desfrutando de melhores índices de curva. Sabiamente, Colin Chapman e seus asseclas imaginaram que uma asa de avião com perfil invertido faria esse papel de “frear” o ar na parte de cima do carro, reduzindo sua velocidade sobre o eixo traseiro e aumentando a pressão exercida sobre os mesmos. Temos, em 1967, o Lotus 49B fazendo o debut dos aerofólios da forma que conhecemos hoje. Daí para o uso irrestrito nos carros de competição foi um pulo, atingindo a parte dianteira do veículo anos depois.

Também foi nos anos 1960 que vimos esse acessório chegar nos carros esportivos que possuíam versões para uso nas ruas. Que diga a dupla Dodge Charger Daytona e Plymouth Road Runner Superbird, que exibiam tal acessório de forma ostentosa (e deliciosa) como forma de homologar o uso de tal recurso aerodinâmico nos carros que competiam na NASCAR. Desde então, tal recurso se faz presente em todos os tipos de carro: desde superesportivos com variação no atuação dos mesmos, até sua presença em pick-ups e subcompactos. Definitivamente, a asa invertida ganhou o mundo e quebrou barreiras.

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Mas, pera lá. Quem disse que ela sempre funciona? Afinal, Éolo não é besta: não se brinca com a força do vento.  Qual é a lógica de você colocar um aerofólio no seu Celta?

É sabido que em meados de 2000 a Ford, testando em fase de protótipo o futuro Ka XR, conseguiu aumentar a velocidade final do mesmo em 8km/h com a adição de um pequeno aerofólio acima do vidro traseiro, que reduziu a turbulência no local e melhorou o coeficiente de penetração do venenoso hatch frente ao ar. Mas não é todo dia que é gol da Alemanha: vamos com calma, campeão.

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Hoje, com o uso da computação em níveis extremos, a aerodinâmica de cada veículo é estudada a níveis bizarramente detalhados. Então, o uso de um aerofólio ou não naquela versão esportiva não é um devaneio de um designer que, num download divino, baixou Dalí em si e colocou aquela pecinha na traseira do veículo. Se ela está lá, demorou-se muito para que um estudo fosse feito e tal conclusão fosse obtida. Por vezes esses estudos são realizados por empresas diferente das fabricantes, mas com altíssimo grau de especialização. Por isso, se você pretende colocar aquele spoiler da Spoon no seu Civic ou aquele da ABT em seu Jetta, vá em frente: eles sabem o que fazem. Porque a ação do aerofólio, quando não estudada, pode ser muito desvantajosa. Com ênfase no “muito”, por favor.

Vamos então ao rol de problemas: Em primeiro lugar, imagine um balanço. Esses de parque, que você leva seu primo pentelho. Pois então, tomando o eixo traseiro como o pivô desse balanço, e fazendo uma força oriunda do aerofólio atrás do pivô, você fatalmente levantará a frente do seu carro em altas velocidades. Epa, mas você e todo mundo têm um hatch popularesco com tração dianteira. Logo, o efeito é trágico: você tenderá a perder o controle do veículo, ao invés de aprimorá-lo como seria esperado. Menor capacidade de tração em velocidades elevadas e contato reduzido das rodas direcionais com o solo não me parecem uma boa ideia, não é mesmo? E a coisa não para por aí.

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Ao instalar um aerofólio, não necessariamente você aprimorará a aerodinâmica do seu veículo. Pelo contrário: a tendência é de piora. Sendo assim, temos menor velocidade final e pior consumo de combustível. E a cereja no topo do bolo é o fato de que o aerofólio funciona em velocidades realmente altas. Que, talvez, seu Celta não chegará. Some tudo isso e tenha um veredito: abundam no mercado aerofólios desenhados por amigos do Ray Charles pessoas sem o mínimo conhecimento de aerodinâmica, que acham que uma questão de estilo não interferirá de forma sensível em seu veículo. E vemos que não é assim que funciona.

A despeito de tudo isso, os aerofólios podem ser considerados parte do sex appeal de um automóvel. Ajudam a mostrar que, não, você não está diante de um carro qualquer. E sim de um guerreiro do asfalto, que eventualmente acelerará como se não houvesse amanhã e engolirá curvas com voracidade. É parte do uniforme de bad boy que muitos deles carregam consigo, e cuja imagem se torna indistinguível entre criatura e criador.

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E você, o que acha de tudo isso? Como encara os aerofólios? Acha demasiadamente chamativo ou o visual lhe agrada? Acha válido um apêndice de tamanho destaque, frente ao eventual benefício do mesmo? Vamos, compartilhe conosco sua opinião!

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