Quando a originalidade não é o mais importante em um carro
Atualmente a China tenta “copiar” os times de sucesso do futebol brasileiro contratando quase todos os jogadores. Foi assim com o Cruzeiro, campeão de 2014, e se repetiu com o Corinthians, que venceu o Brasileirão de 2015. Mudando do futebol para a indústria, essa mania chinesa de produzir coisas parecidas com outras existentes não é novidade. São smartphones, roupas, eletrodomésticos, perfumes e tudo que se possa imaginar. E entre os automóveis, é claro, não seria diferente.
A China produz anualmente mais de 20 milhões de carros e lidera o ranking mundial, com produção maior que o dobro dos Estados Unidos, que ocupam a segunda posição. A grande maioria desses carros, obviamente, têm desenho original. Mas o mercado do país asiático coleciona “clones” de modelos de marcas mais europeias, americanas ou japonesas. Eles, é claro, negam. Mas não faltam exemplos que mostram o contrário.
Em março do ano passado, dois modelos elétricos chamaram a atenção. Não pela tecnologia que dispensa um motor a combustão, mas pela falta de originalidade em seus desenhos. A Yogomo mostrou o compacto 330 que parece um irmão gêmeo do Kia Picanto. Se as fotos dos dois modelos fossem parte de um jogo de sete erros, este poderia ser considerado dos mais difíceis, tamanha semelhança entre o chinês e o coreano. Já a VidoEV decidiu copiar o Fusca, com um modelo que ainda não tem nome. Mas foram originais e desenharam o modelo com quatro portas. Destaque também para a criatividade da marca ao desenvolver seu logotipo. Qualquer semelhança com o da Nissan é mera coincidência.
Também no ano passado ganhou força o caso do Land Wind X7. Esteticamente, o chinês tem pouquíssimas diferenças em relação ao Range Rover Evoque. Na frente, mudam a grade e o para-choque. Atrás há uma barra preta com o nome da marca. Por dentro, até o teto panorâmico foi copiado. A Land Rover bem que tentou impedir a Land Wind de comercializar o modelo, mas não obteve sucesso. Tais diferenças foram suficientes para as autoridades chinesas concluírem que não houve cópia.
Para a sorte dos designers chineses, não existe uma lei internacional de direitos autorais. Mas existem alguns acordos, como a Convenção de Berna para a Proteção de Obras Literárias e Artísticas. Em resumo, o tratado exige que os países signatários reconheçam as leis uns dos outros de propriedade intelectual. Mas ainda assim é complexo decidir se houve cópia.
Entre as maiores dificuldades está o estabelecimento de uma relação causal entre o “original” e o “alternativo”. A fabricante que se sente incomodada deve provar que seu carro foi copiado. Primeiro, o design deve ser absolutamente idêntico. Como ocorreu no caso da Land Rover, basta uma grade diferente para derrubar o argumento de cópia. Além disso, todo o projeto é avaliado. Se os objetivos de um produto forem diferentes dos descritos no projeto do outro, não há cópia.
Para que o leitor tire suas próprias conclusões, selecionamos outros casos de carros chineses muito parecidos com modelos de outras marcas.
Zotye E30 e Smart ForTwo
O chinês é menor, mais largo e movido por um motor elétrico. O painel tem uma tela que lembra um tablet. Logo, o Zotye E30 não é uma cópia do Smart ForTwo. Mas alguém diria que eles não se parecem?
Hongqi LS5, Range Rover e um pouquinho de Jeep Cherokee
A Land Wind não é a única marca chinesa fã da Land Rover. É o que mostra a Hongqi com seu LS5. Do para-brisa até a traseira, o estilo é basicamente o mesmo, diferenciado apenas por alguns detalhes, como o desenho da terceira coluna e os cromados que os chineses adoram. Já na frente, uma forte lembrança da geração passada do Jeep Cherokee.
Suzhou Eagle, Porsche Cayman e mais um pouco
Carro elétrico movido por uma pequena bateria, com velocidade máxima de cerca de 110 km/h e autonomia de 257 km. Essa é a principal diferença entre o Suzhou Eagle e o Porsche Cayman. Esteticamente, os faróis no melhor estilo Ferrari F12 Berlinetta ajudam o chinês a se distanciar da aparência do esportivo alemão. O caso do Eagle é ainda mais curioso. A Suzhou criou um logotipo especial para o carro. Será que ele lembra alguma coisa?
JAC A6 e Audi A6
Sedã com estilo elegante, refinado e chamado A6. Um Audi? Não necessariamente. Pode ser o JAC A6, que ostenta o mesmo nome do três volumes alemão e alguns detalhes estéticos muito parecidos. Não fosse o excesso de cromados na grade frontal e a estrela no lugar das quatro argolas, um desavisado poderia levar gato chinês por lebre alemão.
Geely GE e Rolls Royce Phantom
Possuir um Rolls Royce é talvez um dos maiores símbolos de status. Mas, na China, quem não pode comprar um carro como o Phantom tem uma alternativa. O Geely GE. É quase a mesma coisa (nunca será). Tem até seu próprio “Spirit of Ecstasy” (Espírito de Êxtase).
Lifan 320 e Mini Cooper
O Lifan 320 já não é mais produzido. Mas não é tão raro ver uma unidade do Mini chinês pelas ruas brasileiras. O modelo asiático não é feio (nem bom). Tem visual menos robusto que o do Cooper, mas sempre esteve muito longe da performance do “original”. Seu sucessor, o Lifan 330 manteve a inspiração, com faróis mais arredondados. E ganhou até uns traços do Fiat 500L, principalmente na dianteira.
Brilliance V5 e BMW X1
A Brilliance e a BMW têm uma joint-venture na China. Foi a partir da parceria que o crossover X1 começou a ser vendido no país asiático. E o sucesso do BMW motivou a “amiga” chinesa a criar seu próprio modelo para rivalizar com o alemão. Se é que isso pode ser chamado de “criação”.
Zotye T600, Volkswagen Touareg e Audi Q5
Imprima numa folha uma foto do Volkswagen Touareg e uma do Audi Q5. Corte ambas pela metade, junte a frente do primeiro, a traseira do segundo, retire o “VW” da grade dianteira e adicione ali um “Z”. Tire do papel, transforme num carro de verdade e você terá um T600. Ah, os chineses…