Picape é necessidade ou virou ostentação de quem quer motor diesel?
Diesel. Se na Europa os carros mais econômicos utilizam este combustível, aqui no Brasil ele se limita, por lei em vigor desde 1976, apenas para caminhões, ônibus e utilitários com capacidade acima de 1 tonelada ou com tração 4×4 com função reduzida. Até pouco tempo atrás, se você quisesse uma picape a diesel, viveria em um ambiente rústico, sem luxo. Conforto então, era quase nulo. Carro para peão trabalhar! Por sorte, mudaram muito.
Com o tempo, elas se “afeminaram”. Começou pelo acabamento, pacote de equipamentos e, agora, tentam se aproximar dos automóveis até mesmo em dirigibilidade, tudo em prol da facilidade em uso urbano e da suavidade, para atender um público maior. A Toyota Hilux foi a última das picapes a adotar esse novo DNA nas grandonas, após Ford Ranger, Chevrolet S10 e VW Amarok.
Picapes vs. SUVs?
Para ver se esta fórmula está funcionando, vamos fazer um jogo. Colocar a Hilux contra o Jeep Renegade Diesel, o único SUV compacto com opção de motor que queima esse combustível e que, em outros testes, se revelou ótima solução para cidade, estrada e off-road.
A Hilux entra com a sua versão topo de linha, SRX, que custa altos (até para o seu segmento) R$ 188.120, sem nenhum opcional disponível. Lançada no fim de 2015 por aqui, esta nova geração ficou mais luxuosa por dentro, mais refinada mecanicamente e perdeu um pouco daquela cara de robusta da anterior: ficou parecida com o sedã Corolla. Essa solução tem dado certo, já que este ano vendeu mais que a S10, até então líder do segmento.
Do outro lado, quase mais visto que Fiat Uno nas ruas, o Jeep Renegade. Ele vem na versão intermediária, Longitude, que tem preço inicial de R$ 117.990, mas que chega aos R$ 151.270 com todos os opcionais, como é o caso da unidade testada. Este ano, briga, placa por placa, pela liderança dos SUVs compactos com o Honda HR-V.
O que um fazia, o outro agora faz
A Hilux abandonou o antigo motor 3.0 turbodiesel de 171 cv e adotou o 2.8 com 177 cv @ 3.400 rpm e torque de 45,9 kgfm, disponíveis entre 1.600 rpm e 2.400 rpm. Nesta versão, usa câmbio automático com seis marchas e tração 4×4 com reduzida, sendo que, quando em modo 4×2, a tração é traseira, como as picapes tradicionais. No Jeep, temos um 2.0 com 170 cv @3.750 rpm e torque de 35,7 kgfm às 1.750 rpm ligado ao câmbio automático de nove marchas . A tração é integral com distribuição automática entre os eixos.
Se as picapes batiam no peito para falar de sua construção de carroceria sobre chassi, sob a alegação de ser mais robusta e resistente para o uso severo, a tecnologia de construção dos monoblocos avançou muito. Usando diversos tipos de aços e sistemas de montagem, a plataforma do Renegade consegue as mesmas qualidades com algumas vantagens no conforto e suavidade. Tanto que ela já foi para uma picape, a Fiat Toro, que carrega até uma tonelada.
Coloquemos equipamentos e valores de lado por um momento. Em ação, a Hilux e o Renegade se parecem em muitos pontos, como suavidade ao rodar e desempenho. Com números de potência e torque próximos, o Jeep leva a vantagem pelo menor peso (1.636 kg contra 2.090 kg) e pelo câmbio de nove marchas, que concilia aceleração de rápida, com ganho de giro mais fácil e menor rotação em velocidade de cruzeiro, o que fez a diferença no consumo: 13 km/l na cidade e 16 km/l na estrada, contra 10 km/l e 12 km/l, respectivamente, da Hilux.
Se você acha que na hora de colocar na terra o Renegade ia “abrir as pernas”, se enganou. Com o sistema de tração inteligente, com 4 modos de atuação e blocante, o pequeno Jeep acompanhou a Toyota com tranquilidade e mais conforto, pois pula menos. Foi até melhor, já que não necessita de interferência humana para definir o modo de tração, diferente da Hilux, com botão no painel para engrenar o 4×4 ou a reduzida. Acredite, isso fará a diferença para quem não está acostumado com o mundo off-road.
Lógico que, pelo seu tamanho, a Hilux é bem pior para usar na cidade diariamente. Achar uma vaga para ela, ou até mesmo ficar confortável nas apertadas faixas de rodagem das capitais, é algo que tem que ser feito por quem já possui certa prática. Mas a posição de dirigir ficou muito melhor que a antiga geração, com bancos confortáveis, painel de fácil visualização e há conforto mesmo após horas ao volante, como em um carro e no Renegade. Seria melhor se a regulagem da coluna de direção fosse mais ampla e, se quem cuida na Toyota – e em outras marcas – dos materiais das picapes, tirasse da cabeça que elas são usadas apenas em trabalho. Caros, podem deixar o plástico rígido de lado e usar algo mais “fofo” ao toque, como acontece no Renegade. E não, imitar costuras no plástico não é legal.
Valores e sensações
A Hilux tem, em contrapartida, a grande caçamba e espaço interno bem maior que o do Renegade. O “pula pula” da suspensão traseira, como toda picape deste porte, ainda existe e as vezes enche o saco, mas bem mais suave que a S10, por exemplo.
Sem saber de números, qualquer pessoa que entra no Jeep acha que ele é mais caro que a Hilux. Esta unidade, completa, tem botão de partida, faróis de xenon, sistema de som com subwoofer e multimídia com tela de 6,5” e painel com computador de bordo em TFT. O acabamento e os detalhes fazem parecer que vale o que custa. Ainda mais por não dever nada em desempenho e robustez à Hilux.
Picape ou SUV?
Se estivéssemos em 1995, quando apenas as picapes tinham motor diesel, a Hilux seria uma vencedora. De fato, no geral, ela é melhor que as concorrentes, mas cara demais. Quer MESMO uma picape desse porte? Faça o teste: preciso de caçamba? Tenho onde estacionar? Estou acostumado com o tamanho e gosto do pula pula da traseira quando vazia e da posição alta de dirigir? Se a resposta for sim para as três, vá de Hilux. Mas olhe a versão SRV, de R$ 177 mil, já bem equipada.
Se seu objetivo é ter um carro diesel com múltiplas funções, leve o Jeep Renegade, mesmo o básico Sport Diesel de R$ 105.990. Com o que sobrar, dá para fazer uma viagem e aproveitar tudo o que ele pode fazer. Feliz 2016 e a liberdade de escolha entre segmentos!
Dados de fábrica
Toyota Hilux SRX
Motor Quatro cilindros em linha, dianteiro, longitudinal, diesel; Cilindrada 2755 cm3; Potência 177 cv a 3.400 rpm; Torque 45,9 kgfm a 1.600 rpm; Câmbio automático, 6 marchas; Tração 4×4
Dimensões: 5,33 m; Largura 1,85 m; Altura 1,81 m; Entre-eixos 3,08 m; Caçamba 1000 l; Peso 2.090 kg.
Aceleração de zero a 100 km/h: 11,8 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h
Origem: Zárate, Argentina
Jeep Renegade
Motor Quatro cilindros em linha, dianteiro, transversal, diesel; Cilindrada 1956 cm3; Potência 170 cv a 3.750 rpm; Torque 35,7 kgfm a 3.750 rpm; Câmbio automático, 9 marchas; Tração integral
Dimensões: 4,24 m; Largura 1,79 m; Altura 1,71 m; Entre-eixos 2,57 m; Porta -malas 260 l; Peso 1.636 kg.
Aceleração de zero a 100 km/h: 9,9 segundos
Velocidade máxima: 190 km/h
Origem: Goiana, Pernambuco