A mesma Fiat que hoje tem o melhor acervo digitalizado de fotos e informações de carros do passado deixou passar uma peça muito importante de sua história no Brasil. Imagino que em 1976 não existia tanta preocupação com marcos históricos (até porque os carros clássicos de hoje ainda eram novos), pois a Fiat resolveu sortear entre suas primeiras concessionárias seu carro primogênito. Quem levou foi a Milocar, do Rio de Janeiro, que fez questão de deixá-lo em seu salão nos últimos anos. Exceto por hoje.

Para comemorar o primeiro aniversário do 147 Fiat Clube RJ, o Fiat 147 chassi 000001 saiu de seu conforto no showroom e, pela primeira vez em 15 anos, foi ligado e até deu uma volta pelo quarterão da revenda, puxando uma carreata com vários Fiat 147. Foi com alguma dificuldade, é verdade, mas não poderia ser diferente para um carro de 40 anos todo original e com apenas 101 km rodados. Ele até engrena a ré! Nem a própria Fiat conseguiu tirar este carro da concessionária…

Não me parece exagero dizer que foi um momento histórico. Justamente por isso, resolvi compartilhar na íntegra (mesmo que com alguns micos e muitos palavrões) todo o percurso do 147 000001, a bordo do raro 147 GL 1977 (raro porque esta versão só foi lançada em 1978) de Jaime Boueri, presidente do 147 Fiat Clube. Confira:

“Ah, mas é apenas um Fiat 147”, você pode dizer. É um carro que já está acostumado com preconceitos, seja pelo câmbio que arranha, pela marcha à ré com dificuldade para entrar (até 1984) ou pela motor que deixou muitos mecânicos de cabelo em pé décadas atrás. O que ninguém lembra é que o 147 estreou entre os carros brasileiros vários sistemas que, hoje, passam batido nos carros modernos de tão comuns que são. Vamos lá:

• Primeiro carro brasileiro com motor transversal dianteiro;
• Primeiro carro no Brasil com coluna de direção articulada;
• Primeiro carro a álcool fabricado em série em todo o mundo (a partir de 1979);
• O menor carro a diesel da época (exportação para a Europa e a Argentina);
• Primeiro carro brasileiro com todas as “variantes” comuns na época: hatch, sedan (Oggi), perua (Panorama), furgão (Fiorino) e pick-up (City). Só não teve mesmo versão conversível, porque se for investigar o Lada Niva pode ser considerado como versão SUV do 147 (ou do 127, como queira);
• Primeiro carro brasileiro com o estepe debaixo do capô dianteiro (ok, isso não é normal nem nos tempos atuais);
• Primeiro carro no Brasil a utilizar para-choques de plástico polipropileno em larga escala (no modelo Europa em 1980);
• Primeiro carro brasileiro com desembaçador traseiro.

Mesmo sendo “diferentão”, o Fiat 147 permaneceu em linha no Brasil até 1987, quando estava mais do que claro que ele não seria capaz de disputar atenção com o Uno, lançado em 1984. No período, foram produzidos, só de 147 e Spazio,  709.230 carros, sendo que 536.591 ficaram no Brasil.

Ainda foram produzidos 87.184 unidades da picape, 115.986 unidades da Panorama, 20.419 unidades do Oggi, 172.086 (sendo que apenas 19.575 ficaram no Brasil) unidades do 147 Fiorino e 12.848 147 furgão. Uma curiosidade é que o Spazio continuou sendo montado para exportação até 1993.

Algumas dezenas destes carros compareceram ao evento. Eu nunca tinha visto tantos 147 reunidos…