A Rolha cega e o trânsito – A face caótica das nossas vias

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Nosso trânsito tem problemas e você pode ser um deles

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Gostaria de não precisar de escrever um texto que tratasse de problemas – afinal, fazer a Pergunta da Semana e tratar de coisas desconhecidas é sempre mais legal até para mim. Entretanto, essa matéria é também um grito de alerta para você, motorista como eu. Porque aqui trataremos do trânsito nas grandes cidades, bem como as doenças endêmicas dele e das possíveis soluções mitigar os problemas. Para tal, vamos fazer um rápido panorama social do nosso sistema viário.

Posições políticas à parte, lidamos com alguns fatos. O primeiro é que experimentamos um aumento considerável da frota nos últimos anos, em que os mais abastados compraram novos carros, e classes mais baixas absorvendo vorazmente os automóveis mais velhos. Como a proporção de veículos que saíram de circulação é relativamente pequena, temos então um volume bem maior de veículos em nossas ruas. Estas, por sua vez, não sofreram as devidas intervenções de infra-estrutura. Menor ainda foram as intervenções nos meios de transporte coletivo, que ajudariam a deixar o veículo na garagem e a utilizar a forma mais racional de transporte, que é o compartilhado entre muitos.

Trânsito em São Paulo

Não obstante, o brasileiro é um povo sem educação. Tal fato sai do espectro da opinião e se torna uma fato a cada dia que passa. Dentro do carro, o brasileiro mostra sua faceta mais primitiva e grotesca, trazendo à tona o pior de sua personalidade. Por fim, temos a última fatia do coquetel Molotov do trânsito brasileiro: a péssima formação dos nossos condutores que deságua em desconhecimento das leis e normas de trânsito, a falta de controle de aprovação e de fiscalização dos órgãos competentes. Com isso, está formada a chave do caos em nossas ruas e estradas.

Posto tudo isso, vamos ao asfalto para analisar alguns tipos encontrados em nosso cotidiano. O primeiro é o condutor do tipo rolha, cujo efeito de sua ação é maior do que se pode imaginar em nossas ruas. A velocidade máxima da via é 60 km/h? Não tem problema, vou a 50 km/h. Afinal, eu posso (e pode mesmo!). Tudo bem: é um direito dela que não se pode retirar. O problema é quando a rolha fica cega.

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Você está se perguntando que diabos é isso, não é mesmo? Pois bem: a rolha cega não consegue ver um palmo à sua frente e, por isso, fica junto à faixa divisória entre as pistas ou ladeando a guia do canteiro central. Em outras palavras, se torna um estorvo na pista da esquerda, muitas vezes em velocidade abaixo à da via, piorando em muito a saúde do tráfego nas nossas cidades.

E o problema não para por aí. São diversos vícios que se mostram endêmicos no cotidiano das ruas. Podem parecer pequenos, mas acredite: muitos dos engarrafamentos se devem a eles. E o que são essas atitudes?

Bom, o problema persiste com o imenso vício tecnológico atual e a necessidade de se conferir o telefone celular a cada parada no semáforo. Quando o sinal passa para a luz verde, lá se vão alguns segundos até o intrépido condutor largue o telefone, engate a primeira marcha e comece a andar. Coloque isso como um efeito cascata, em que os condutores seguidamente só despertam para o fluxo quando o carro da frente finalmente se move, e temos uma onda letárgica no trânsito.

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E não é só isso: ao imprimir marcha, cadê aquela noção de que a velocidade da via depende de você? Nula, certamente. Daí, são 3 dias de aceleração em um carro plenamente apto ao nosso cotidiano para se chegar até a velocidade máxima da via. Isso se chegar. E, muitas vezes, na pista da esquerda, para alegria geral da nação.

Então chega a hora de realizar uma conversão em uma via perpendicular, com sinalização e trânsito a seu favor. Sim, devemos reduzir a marcha pelos mais diversos motivos. Mas isso não quer dizer que você tem quem praticamente parar o carro e refletir sobre MacBeth enquanto realiza a manobra. Você, provavelmente, está curvando em um veículo de passeio fabricado nos últimos 25 anos em uma típica rua brasileira. E não fazendo um cotovelo com um Unimog no Himalaia.

Já perdi a conta de quantas vezes uma fila se formou em uma rua, de mão única, perto da minha casa, porque o trânsito da mesma tendia a seguir uma rua a 90º que começava em certo ponto, com uma descida na via em que os carros viravam. Em vez de reduzir de forma inteligente, muitos encaram a manobra como gerir a escalada de um Wrangler em Moab e praticamente estacionam o carro para virar a simples esquina. Passada a mesma, nenhum motivo de interrupção física. É mole? Literalmente, uma rolha evitando a boa fluência do trânsito.

E tem mais: por morar em BH, os aclives são onipresentes. Reduzir marcha para vencê-los? Que isso, dá preguiça e o carro grita. Vamos perder o embalo, dispensar a energia cinética, e nos arrastar morro acima em uma marcha de pouca força com carga máxima no acelerador. E é essa forma que simples subidas, vencidas sem grande esforço mesmo por populares 1.0, se tornam uma procissão medieval rumo ao céu. Preciso lembrar que, em várias ocasiões, o mais lerdo dos condutores está seguindo fielmente a marca do canteiro central, agarrando a pista de ultrapassagens na esquerda? Não, né. E nas estradas, tal efeito beira o desesperador algumas vezes.

Na hora de sair de casa rumo a um endereço desconhecido, que tal olhar com antecedência no GPS ou no mapa? Isso não parece razoável para muitos. Muito menos, em caso de desinformação, encostar em local seguro para confirmar os dados. O que vale é brincar de caçar as pistas com o carro se arrastando pela via. Aos que vêm atrás: tenham paciência, eu não sei aonde vou. E também aonde anda o bom senso, convenhamos.

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Por último, mas não menos importante: a faixa da esquerda é uma pista de ultrapassagem. Você, caro cidadão, com neurônios em polvorosa nesses dias de crise política (e moral, social, mental…), sente-se no dever de barrar aquele babaca atrás de um volante alheio. Sim, concordo contigo. Mas, pense em uma verdade mecânica antes de ser o “xerife-da-faixa-da-esquerda”, andando na velocidade máxima da via e mandando às favas quem puder vir em ritmo mais rápido: os velocímetros tem erros de aferição. E o velocímetro do carro que se aproxima pode ser mais preciso que o seu: com isso, ele não está verdadeiramente acima do limite legal de velocidade: é você quem está abaixo e não sabe.

Além disso, existe a prerrogativa legal de se andar alguns quilômetros por hora acima do limite sinalizado da via afim de se compensar alguma má-calibração dos instrumentos de vigilância. Ou seja: até o limite tolerado imposto, ele não incorre em discordância legal, tão complicado de se entender (e fazer valer) nos dias atuais. Por fim, a mesma lei que rege os limites legais apregoa que o condutor deve, após manobra de ultrapassagem, se recolher à faixa da direita. Ou seja, muito coíbem um eventual erro realizando outro da mesma magnitude. É mole?

Bahn Storming
O recado é simples: livre a faixa da esquerda!

Pense, caro leitor, se você não é uma rolha cega, com algum dos comportamentos acima citados. Se for, melhore: errar é prerrogativa do humano. Mas permanecer no erro é, pelo menos, burrice. E façamos do nosso trânsito um lugar melhor e mais célere, para melhor aproveitarmos o nosso dia com coisas realmente importantes.

E até a próxima!

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