Splash and Go! – O bom filho a casa torna… e os “young guns” estão sem munição

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no whatsapp

Em novembro do ano passado, conversei com o Henrique Rodriguez, editor-chefe do ‘Primeira Marcha’, sobre o retorno da coluna ‘Splash and Go!’. Prometi que o primeiro texto da nova fase seria um panorama do encerramento da temporada da Nascar, que representou também a aposentadoria de três dos pilotos mais populares da competição: Dale Earnhardt Jr., Matt Kenseth e Danica Patrick. O texto ficou enorme (como sempre), mas não consegui concluir. Quando comecei a escrever o que a aposentadoria do Matt Kenseth representava pra mim, travei. Ao contrário do que aconteceu com os últimos grandes pilotos que se aposentaram, Kenseth, então com 45 anos, não queria parar, mas não teve outra saída após não ter o contrato renovado pela Joe Gibbs Racing.

Há sete anos, noticio diariamente no Rio de Janeiro histórias comoventes, tristes e também revoltantes pelas ondas do rádio. Porém, como colunista de automobilismo, não achei as palavras certas para me despedir do piloto que mais admiro. Naquele dia 19 de novembro, assisti à etapa da Homestead-Miami sozinho, em silêncio, vestindo um boné do piloto do carro 20 com o patrocínio da ‘Dollar General’. Senti um misto de euforia e chateação, pois o Kenseth havia ganhado a corrida da semana anterior, a única vitória dele na temporada de despedida, o que foi um verdadeiro presente para os seus fãs. Após cinco meses afastado das pistas, na última terça-feira, dia 24, começaram os rumores de um retorno do Kenseth a categoria correndo algumas etapas da temporada pela equipe em que ele foi campeão em 2003, a Roush Fenway Racing. Li e reli o site diversas vezes, a ficha não caía. Só me lembro de ter sentido algo parecido quando surgiram os boatos da volta do Soundgarden, no fim de 2009. Passei o resto do dia com um sorriso bobo no rosto. A confirmação oficial só aconteceu na manhã desta quarta-feira, dia 25. A prova de retorno do Matt será no dia 12 de maio, na etapa do Kansas. Durante o resto da temporada 2018, o veterano vai dividir o carro 6 da Roush com Trevor Bayne, que competiu de forma regular pela equipe nas últimas três temporadas.

Matt Kenseth recebendo o carro do patrão Jack Roush.

Como a Nascar é uma categoria intensa, transparente e acessível, para a maior parte dos fãs a escolha de um piloto favorito não se dá apenas pela habilidade no volante, a personalidade do piloto também conta muito na hora dessa decisão. Eu e o Matt Kenseth nascemos num dia 10 de março, eu em 1984 e ele em 1972. Dois traços da personalidade dele me fizeram admirá-lo além da pilotagem precisa: o sarcasmo e o fato de nunca voltar pra casa com uma situação mal resolvida. Quando desrespeitado, o Kenseth se mostrou um gigante, mesmo com 1,75m de altura. Ao mesmo tempo em que já foi um gladiador em algumas situações, o Matt demonstra um lado ‘pai de família’ exemplar, sempre longe das badalações e polêmicas extra-esporte que envolvem boa parte dos grandes campeões. O cara pacato que vira um monstro quando alguém se aproveita dessa tranquilidade para pisar no seu calcanhar. Já escrevi aqui na coluna sobre um dos episódios de ‘Um Dia de Fúria’ do Matt Kenseth. Leia aqui.

Nos últimos três anos, a maior parte dos grandes pilotos (e mais populares) que correram neste século se aposentou: Jeff Gordon em 2015; Tony Stewart em 2016; Dale Jr. e Matt Kenseth em 2017. Gordon, Stewart e Kenseth representam 8 títulos na principal categoria da Nascar. Já Dale Jr., filho da lenda do automobilismo americano Dale Earnhardt (o Ayrton Senna dos EUA), foi eleito 14 vezes consecutivas o piloto mais popular da Nascar. Da geração vitoriosa surgida no início da década de 2000, três grandes pilotos ainda provam que, na Nascar, idade pouco importa: o heptacampeão Jimmie Johnson (42 anos); o campeão de 2014, Kevin Harvick (42 anos) e o campeão de 2004, Kurt Busch (39 anos). O último deu a entender que também se aposentaria ao fim da temporada passada, mas acabou renovando com a Stewart Hass Racing. Embora não tendo o mesmo destaque dos citados anteriormente pela falta de um título, não posso me esquecer do Ryan Newman (40 anos), piloto com um currículo de 17 vitórias na categoria principal e que luta bravamente com as limitações do carro da Richard Childress Racing, que outrora, já foi a maior do grid. Para compensar a aposentadoria dos grandes nomes da Nascar das últimas duas décadas, as grandes equipes apostaram em jovens de vinte e poucos anos que brilharam nas categorias de acesso. Porém, apenas dois pilotos dessa geração demonstraram nos últimos 3 anos que merecem a alcunha de ‘Young Guns’: Kyle Larson (Chip Ganassi Racing) e Ryan Blaney (Wood Brothers Racing / Team Penske). No entanto, as duas maiores equipes da categoria ainda não tiveram o retorno esperado das ousadas apostas.

Hendrick Motorsports:

– Chase Elliot: Assumiu o carro 24 (ex Jeff Gordon) e neste ano, está correndo com o carro 9 (número consagrado pelo seu pai, o talentosíssimo Bill Elliot). Chase se destacou nas categorias de acesso, mas quando está disputando as primeiras posições com os veteranos, sente a pressão e nunca chega ao Victory Lane.

– Alex Bowman: Atual piloto do carro 88 (ex Dale Jr.). Bom piloto, apenas isso. Em 5 anos competindo pelas 3 principais divisões da Nascar, acumulou apenas 1 vitória pela Xfinity Series (2ª divisão). Na minha opinião, não é piloto para um carro da Hendrick.

– William Byron: Este eu considero um fenômeno. Um rapaz de apenas 20 anos que detonou por onde passou nos últimos dois anos. Sete vitórias na Truck Series em 2016 (3ª divisão) e 4 vitórias na Xfinity Series em 2017 (2ª divisão), conquistando o título de forma dominante sobre o Elliot Sadler, piloto mais experiente da categoria. Foi uma atuação de gênio do Byron. Porém, parece estar pesando o número 24 gravado no carro, utilizando também a pintura consagrada pelo Jeff Gordon. Não tenho dúvida de que ele tem capacidade de brigar por vitórias com os campeões que têm idade para serem seus pais, mas na principal categoria, o buraco é mais embaixo.

Joe Gibbs Racing:

– Daniel Suarez: Assumiu o carro 19 na pré-temporada do ano passado, após o anúncio repentino de aposentadoria de Carl Edwards. Bom piloto, como tantos outros. Foi campeão da Xfinity Series em 2016, numa temporada que foi dominada pelo Erik Jones. O mexicano nunca me convenceu. Acumulas apenas 14 “top tens” em 45 corridas com um dos melhores carros do grid. Também não o considero piloto nível Joe Gibbs Racing.

– Erik Jones: Pilota o carro 20 (ex Matt Kenseth). Tem talento de sobra, foi campeão da Truck Series em 2015 e foi o destaque da temporada regular da Xfinity em 2016, perdendo o título na última etapa dos playoffs. Estreou na principal categoria (Cup Series) no ano passado, correndo na equipe Furniture Row Racing, a mesma do campeão da temporada, Martin Truex Jr. Jones também ainda está devendo grandes demonstrações de competitividade, como fazia nas categorias de acesso.

Nenhuma das apostas das maiores equipes está competindo num nível semelhante ao de seus antecessores já no fim de carreira. São 5 carros com histórico de vitórias sem perspectiva a curto prazo de voltarem ao ‘Victory Lane’. Já foram disputadas 9 etapas da temporada 2018 até agora. Oito foram vencidas por pilotos veteranos da categoria: 3 por Kevin Harvick, 3 por Kyle Busch, 1 pelo Clint Bowyer e 1 pelo Matin Truex Jr. Apenas a Daytona 500, etapa de abertura da temporada que é considerada a mais importante da categoria, foi vencida por um piloto com menos de 30 anos. Austin Dillon, de 27 anos, levou novamente o lendário carro 3 ao ‘Victory Lane’, no dia que a morte do Dale Earnhardt, piloto que eternizou esse número no automobilismo mundial, completou 17 anos. Como acontece em qualquer outro esporte, oportunidades precisam ser dadas aos novos talentos, pra que nunca haja um hiato entre gerações de grandes pilotos. No entanto, não será fácil conseguir um lugar ao sol enquanto ainda estiverem correndo em alto nível pilotos experientes como Jimmie Johnson, Kevin Harvick, Kyle Busch, Brad Keselowski, Joey Logano, Martin Truex Jr., Denny Hamlin, Kurt Busch e Clint Bowyer. Acho que a Hendrick e a Joe Gibbs poderiam ter seguido o exemplo da Penske, que só promoveu o Ryan Blaney à equipe principal, após o jovem piloto apresentar resultados satisfatórios numa equipe menor.

Carro da equipe Roush Fenway que será pilotado por Matt Kenseth

A partir de hoje, já começo a economizar as minhas energias e a poupar minha voz para o dia 12 de maio, pois vou passar algumas horas gritando “go, Kenseth!”.

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no whatsapp

Comentários