Por Fernando Calmon O contínuo aperfeiçoamento dos métodos de teste tem sido prioridade dos fabricantes de veículos. Em provas dinâmicas estão ao volante pessoas bem treinadas e experientes das equipes de desenvolvimento, mas as habilidades humanas sempre apresentam limitações. Os pilotos não podem reagir com a rapidez, a repetitividade e a precisão exigidas em certas circunstâncias. No entanto, avançados sistemas eletrônicos de bordo, em especial os de assistência ao motorista, exigem validação funcional da forma mais abrangente e perto da realidade possíveis. A metodologia de teste deve focar a capacidade de o veículo manter velocidade, trajetória e frenagem com o máximo de exatidão. A possibilidade de aprovar recursos como a direção automatizável – hoje restrita a experiências que mais parecem ficção científica – não pode depender de testadores em carne e osso por questões de segurança no trabalho. Em razão disso a Mercedes-Benz desenvolveu um aparato eletrônico-mecânico único para veículos de teste utilizados em instalações internas dedicadas. Na realidade são modelos comuns de produção seriada equipados com robôs que cuidam de dirigir, acelerar e frear. Um computador a bordo controla esse sistema de pilotagem automática para que o percurso pré-programado seja seguido à risca, mesmo se vários carros estiverem envolvidos em uma manobra. Engenheiros especializados monitoram tudo a partir de uma central de controle e podem parar remotamente um automóvel a qualquer tempo. Paralelamente, os veículos em teste fazem autochecagem e freiam, se detectam desvios de programação. Para se imaginar a perfeição de projeto, se o carro faz um percurso pré-planejado diversas vezes, a diferença registrada ao final varia em menos de 2 cm. Em caso de repetidas frenagens até a parada total, as rodas se imobilizam em pontos no chão dentro de um raio de 3 cm! Um das simulações interessantes é uma prova considerada de alto risco pela marca alemã. O carro dirigido a distância sobe uma pequena rampa e mergulha no asfalto. Assim se pode ter certeza de que os airbags não irão inflar nessas condições, ou seja, saltando no ar em função de uma lombada ou avançando sobre uma calçada. Os pilotos de testes, por sua vez, evitam o estresse de guiar nessa condição adversa. Outra condição severa é a simulação dos dispositivos anticolisão. O automóvel em avaliação freia repentinamente para evitar o choque com outro, que só se desvia no último segundo. Situação de quase colisão em cruzamentos também é reproduzida sem o risco de acidente real e de altos prejuízos materiais e humanos. Portanto, há várias aplicações possíveis para o sistema. Os diferentes procedimentos permitem obter resultados com maior confiabilidade e em menor tempo. Entretanto, são complementares aos alcançados em condições de rodagem na vida real. O futuro reserva avanços ainda mais surpreendentes. São tais tipos de testes e controles que viabilizarão a pilotagem verdadeiramente automática em estradas adaptadas para esse fim. Há programas cooperativados em estudo nos grandes polos de produção mundial, mas ainda não se pode prever uma data exata para introdução dessa revolução na mobilidade com segurança. Provavelmente dentro de dez anos.
Sobre o Autor: Fernando Calmon ([email protected]) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É publicada no Novidades Automotivas e em uma rede nacional de 80 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site just-auto (Inglaterra). |