Hamburgo/Alemanha – O Novidades Automotivas teve a oportunidade de avaliar o novo Audi A6 Avant, por uma semana, na Alemanha. Como apresentamos na Parte 1, nosso carro veio equipado com motor 3.0 TDI, movido a diesel, com 245cv de potência e 58 kgfm de torque – o que resulta em desempenho equivalente ao do 3.0 TFSI a gasolina oferecido no Brasil.
O carro avança com muita, muita disposição, e alcança a velocidade máxima de 243 km/h (250 no velocímetro) com facilidade. Mesmo acima dos 200 por hora a sensação ao volante é de absoluto controle e segurança, e o único indício de que se deveria aliviar a pressão sobre o acelerador é a velocidade com que os demais veículos na estrada vão ficando para trás.
Cabe lembrar que essas marcas foram atingidas em autoestradas alemãs (as famosas Autobahans), que possuem trechos sem limitação para velocidade e que são projetadas para isso.
Além de contar com todos os sistemas eletrônicos disponíveis atualmente para auxílio à estabilidade, boa parte dessa sensação (real) de controle e segurança deve ser creditada à tração integral Quattro, capaz de direcionar até 60% da força para o eixo traseiro, de acordo com condições de condução e rodagem. Aliás, é importantíssimo aqui ressaltar que, durante boa parte da avaliação, rodamos sob neve (ainda durante o inverno europeu). A absoluta neutralidade de comportamento do carro, tanto em ruas cobertas de gelo como em estradas com neve acumulada nos acostamentos mostra o quão eficiente é o sistema. Fazer esse carro derrapar demandou boa dose de esforço, técnica, e algumas tentativas (e, claro, um local apropriado para isso). Ainda assim, a Avant o fez de forma equilibrada e sem sustos, mantendo-se alinhada, tracionando as quatro rodas e retornando rapidamente ao trajeto.
No mais, em relação ao comportamento dinâmico, a A6 é dotada de uma direção ágil como não se costuma ver mesmo em modelos menores. Em conjunto com uma suspensão comunicativa e com a eficiência do câmbio automatizado S-tronic – de dupla embreagem e 7 velocidades – parece que guiamos um modelo do porte do A3 Sportback, e não uma grande perua.
Esse excelente comportamento dinâmico pode ser explorado, simplesmente, pressionando o pedal do acelerador. Ou além disso, ele pode ser alterado e ajustado pelo motorista a qualquer momento, através do Drive Select, sistema que permite selecionar e mesmo configurar características do comportamento dinâmico do veículo.
Por meio da interface do MMI, seleciona-se um entre os diferentes programas que determinam o comportamento de vários outros sistemas. De acordo com o nível de equipamento apresentado, o Drive Select irá influenciar na curva de aceleração, no peso e velocidade de resposta da direção, na firmeza e altura da suspensão (que é pneumática e adaptativa), no ponto de troca de marchas, na distribuição do torque entre os eixos, no som do motor que é emitido pelo escapamento, e mesmo no comportamento dos faróis adaptativos.
Os programas disponíveis são Efficiency, que prioriza menores índices de consumo e emissões; Confort, que apresenta rodar mais macio e respostas mais graduais; Dynamic, que prioriza a performance, com trocas de marcha em rotações mais altas, direção mais pesada, suspensão mais baixa e firme; Auto, que procura um compromisso entre comportamento confortável e ágil, adaptando-se ao estilo de condução; e Individual, na qual o motorista pode definir o comportamento desejado para cada sistema do carro. Essa última opção pode agradar marmanjos que gostam de games de corrida, mas a consideramos desnecessária: acreditamos que os engenheiros da Audi saibam melhor como configurar o comportamento do carro!
Aliás, diante de tantos comandos, luzes, tela retrátil, projeção no para-brisas, alertas sonoros do sistema de navegação, interatividade com smartphones e outros aparelhos multimídia…. além de respostas tão estimulantes às provocações do pé direito e das possibilidades de configurar comportamentos do carro, às vezes parece mesmo que estamos num videogame interativo em tamanho gigante, como um grande simulador de realidade virtual. Talvez essa sensação ajude a explicar o crescimento consistente da Audi no mundo, principalmente entre compradores mais jovens.
Assim como o A6 sedan, a A6 Avant tem a classe e prestígio de veículo executivo e o desempenho explosivo de um verdadeiro esportivo, sem abrir mão do espaço e da segurança. Ambos contam com luxo e refinamento para agradar aos mais tradicionais e todo o aparato tecnológico para conquistar a geração play-station. Contudo, a Avant se mostra mais interessante do que a configuração sedan por oferecer o mesmo pacote num formato mais versátil, seja como modelo destinado à família ou para carregar as pranchas de surfe (ou o equipamento de esqui!).
Comparada às suas rivais diretas, a Avant também se mostra mais interessante. Ela pode ser tão prazerosa quanto uma Seria 5, mas graças à tração integral é menos arisca (o que a nosso ver é positivo). Ou rodar sobre veludo como uma Classe-E, enquanto desfila seus faróis desafiadores em frente aos bares mais concorridos da noite. Ou pode ainda se mostrar mais racional e voltada às preocupações cotidianas e à economia de combustível (fazendo as vezes de opção mais refinada e tecnológica a uma VW Passat Variant). No Brasil, entretanto, em sua faixa de preço e proposta, a A6 irá correr sozinha.
Mas e aí!? Após 7 dias de uso intensivo, acumulando quase 2000 km percorridos, quais são os pontos negativos a destacar?
A resposta é: nenhum! Isso mesmo. Não há nada que possa ser apontado como algo relevante ou como problema específico dessa Avant.
Tecnicamente, essa geração do A6 é atualíssima e sua construção híbrida, em alumínio e aço de alta resistência, está um passo a frente do que se vê nos concorrentes (pensando bem, um passo a frente de quase tudo feito por marcas concorrentes e pela própria Audi).
O desempenho é exuberante e o consumo registrado, se esteve aquém dos números divulgados pela marca, seria bom até para um modelo mais compacto e comportado.
Os níveis de acabamento, qualidade construtiva e espaço interno estão acima da media para sua categoria (ameaçamos dizer que a BMW, embora venda mais, deveria abrir mais os olhos). E o design, por sua vez, é bonito e elegante, combinando distinção e esportividade sem exageros. O destaque visual vai para desenhos de grade e conjunto ótico, e quem quiser algo a mais pode optar por belíssimas – e ainda maiores – rodas esportivas de 19”ou 20”.
Em equipamento e tecnologia embarcada, não há do que reclamar. Nesse ponto, a marca acaba até pecando pelo excesso, incluindo tantas possibilidades, que algumas se tornam desnecessárias. O extenso pacote oferecido impressiona e transforma o carro em tema central de conversas e “ponto de visitação” para amigos e colegas (e isso, mesmo na Alemanha). Quem cresceu jogando vídeo-games e curte smartphones vai se sentir em casa.
Com quase 5 metros de comprimento e mais de 2 de largura (incluindo retrovisores), a A6 Avant não tem mesmo nada de pequena. E aí poderíamos argumentar que carro grande não é prático, o que no caso da A6, não é verdade. Ela tem comportamento de carro menor no trânsito e estacionar, mesmo sem apelar para o Park Assist, é tarefa tranquila – vale notar que embora ajude muito, o sistema não sabe entrar em vagas apertadas, e aí fica mesmo por conta da habilidade do condutor.
Pois então. Dissemos no começo da Parte 1 que a A6 Avant, com suas múltiplas personalidades, é uma sedutora. Pois a sensação de guiar em alta velocidade, com absoluto conforto de marcha, num carro que autonomamente freia e acelera, acompanhando o tráfego, controla o uso de fachos baixo e alto de faróis, se mantém na faixa de rodagem e te avisa sobre o próximo posto de gasolina, e ainda ouvir a boa música através do sistema de som Bang & Olufsen e receber uma estimulante massagem nos ombros pode ser descrita simplesmente como algo sedutor!
Ou talvez como “inacreditável !!!!!!” – assim mesmo, seguido de vários pontos de exclamação!
Então, se é que essa Audi A6 Avant tem um lado negativo, é exatamente esse: ela irá te seduzir e te fazer acreditar que é sua; e, depois, irá partir o seu coração, te abandonado, sozinho e apé no estacionamento subterrâneo de um aeroporto internacional qualquer.
Ou ao menos foi isso o que aconteceu com esse pobre correspondente que vos escreve, que não pode adquirir uma A6 para si, mas que se apaixonou pelas muitas personalidades que essa barca sedutora carrega!
Audi A6 Avant 3.0 TDI – Um caso de múltipla personalidade (Parte 1)
Audi A6 Avant 3.0 TDI – Um caso de múltipla personalidade (Parte 2)
Fotos | Fábio Abreu
Agradecimentos à Audi do Brasil