Avaliação – JAC J2: Cortando um dobrado

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Pequeno chinês é competente dentro de suas limitações
JAC J2 (20)[3]
O JAC J2 é, no mínimo, simpático! Durante a experiência dupla que o Novidades Automotivas teve com o modelo, a reação geral das pessoas foi de curiosidade, acompanhada de comentários como “que carro bonitinho!” e “é mais legal do que eu esperava”. Isso fora as duas perguntas principais: “quanto custa?” e “é bom!?” Houve até quem presumisse se tratar de um carro elétrico…

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Como apresentava no video de lançamento do J2 no Brasil, a JAC parece querer que o J2 se desdobre para agradar a diferentes perfis de compradores. Por um lado, oferece um carro “pop”, de dimensões bastante compactas e design simpático, além de bem equipado. Mas promete também um carro “rock”, de desempenho acima da média. E tudo por um preço acessível. Respondendo a primeira pergunta, o J2 custa R$ 31.990.
Para responder a segunda, também desdobramos o carrinho! Encaramos quase 1800 km de estradas entre São Paulo e Minas Gerais com uma unidade do J2 (carro branco), enquanto outra encarou quase 600 km no trânsito da cidade do Rio de Janeiro (carro vermelho).
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As duas primeiras coisas que chamam atenção no J2 são tamanho e desenho. Linhas arredondadas predominam, tanto na carroceria quanto em detalhes como maçanetas e retrovisores. Os faróis têm forma de gota e as lanternas traseiras são enormes. O amplo para-brisas e os vidros laterais, mais curvados, fogem do que tem sido o comum na mesma faixa de preço. Os para-lamas dianteiros são bem destacados, enquanto um vinco ascendente corta a região inferior das portas e contorna as rodas traseiras. No conjunto, o J2 tem personalidade e agrada bem. Parece até menor do que é, mas não parece frágil.
Com 3,53 m de cumprimento, ele é 7 cm menor que um Kia Picanto – um carro de porte semelhante, mas mais refinado e bem mais caro. Se comparado a um Fiat Uno (mais próximo em termos de acabamento e preços), a diferença aumenta para 24 cm. Mas o J2 tem a mesma largura do Fiat, e ainda leva pequena vantagem na distancia entre-eixos (2,39 ante 2,37 m). Logo, na prática o espaço interno não é diferente do que se costuma encontrar em outros compactos. Na dianteira, aliás, tem-se a impressão de espaço maior – efeito do para-brisas amplo e avançado, que fica distante dos passageiros.
JAC J2 - Detalhe interior (7)
Quem realmente perdeu espaço foi o porta-malas – que nosso auxiliar nos obrigou a apelidar de porta-vergonha (a imagem explica). Não houve milagre: são apenas 121 litros (280 no Uno). Ao menos a abertura pode ser feita através de comando interno, pela chave ou pelo comando remoto da chave… Ou expontaneamente, já que a tampa traseira de um dos carros abria-se sozinha durante o movimento.

Por dentro

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Embora apresente pequenas falhas, o acabamento interno tem boa aparência, com vários elementos circulares e detalhes cromados ou em padrão que imita fibra de carbono. Encontramos menos rebarbas e encaixes melhores do que em alguns modelos nacionais (mais caros, inclusive). O que incomoda é a aparente fragilidade de algumas peças plásticas, como as maçanetas internas e a alavanca de regulagem de encosto dos bancos.
Os instrumentos têm iluminação em um tom forte de azul arroxeado que sempre está acesa, e que cansa a vista durante a noite. Adotar regulagem da intensidade (dimmer), ou simplesmente reduzi-la, resolveria o problema. O velocímetro é grande e de fácil leitura, mas o mesmo não vale para o conta-giros, que é bastante reduzido – do mesmo tamanho do marcador de combustível. Não há computador de bordo.

JAC J2 - Detalhe interior (5)JAC J2 - Detalhe interior (1)

Os bancos têm bom formato e densidade adequada da espuma. Contudo, após algum tempo, é a posição de dirigir que cansa: o assento é baixo e não possui regulagem de altura. Além disso, por causa da parede corta-fogo, que avança o interior para abrir espaço para o motor, os pedais estão mais próximos do motorista, enquanto o volante, ao contrário, fica mais distante. O resultado é uma posição muito vertical do encosto do banco, com quadril em posição baixa, pernas mais dobradas e braços mais esticados que o ideal – e isso foi constatado por motoristas com tipos físicos e alturas diferentes. A pequena regulagem de altura da coluna de direção (que move junto o quadro de instrumentos) até ajuda, mas não resolve o problema. Bastaria aproximar o volante do motorista e oferecer regulagem de altura para o banco para melhorar sensivelmente a posição ao dirigir (e não falta espaço acima da cabeça, então seria possível adotar uma regulagem ampla nesse sentido).
JAC J2 - Detalhe interior (3)
Ainda sobre os pedais, os três poderiam ter mais progressividade de acionamento. O da embreagem tem curso muito curto, enquanto o do freio é sensível no início da atuação e o acelerador tem pouca precisão – além de estar muito próximo do console central.
Algo que chama a atenção dos mais atentos é a ausência das saídas de ar-condicionado centrais, substituídas por uma saída no topo do painel, que termina jogando o ar diretamente no retrovisor interno. Tanto esta característica quanto a disposição geral dos elementos no painel lembram muito os trigêmeos Toyota Aygo, Citroën C1 e Peugeot 107 – nenhum deles esta disponível no Brasil. As saídas de ar laterais das duas unidades eram maleáveis a ponto de se fecharem sozinhas, até mesmo ao aumentar a velocidade do fluxo de ar. Tudo isso termina prejudicando a eficiência do ar-condicionado.
JAC J2 - Detalhe interior (2)
Um outro detalhe, que remete a carros franceses, é a má posição dos comandos dos vidros e retrovisores elétricos. Os primeiros estão na base do console e à frente do câmbio, e o segundo no encosto de braço, na porta, mas em posição muito recuada. São locais pouco práticos e o motorista acaba desviando sua atenção para acioná-los.

Em movimento

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Curiosamente, a direção elétrica não é tão leve em manobras, mas contrariamente não ganha o peso desejável em velocidades mais altas. Também é pouco comunicativa e muito desmultiplicada para o tamanho do carro.
A suspensão se destaca por ser independente nas quatro rodas, que dá conta de absorver bem irregularidades do pavimento. Vale ressaltar que, bem diferente do que acontece com o J3, o J2 vendido por aqui não teve sua suspensão elevada. Entretanto, ela peca pela falta de batentes hidráulicos, comum a carros bem adaptados às condições brasileiras. A falta desta solução mecânica é acentuada pelo pequeno curso dos amortecedores, possivelmente resultante de pequenos amortecedores. Esta escolha técnica pode ser explicada pela necessidade de pequena intromissão no cofre do motor e no porta malas, mas o pequeno deslocamento de trabalho dos mesmos faz com que o batente superior seja sempre alcançado em lombadas e valetas, ao passo que o batente inferior sempre é atingido em juntas de dilatação de pontes, dotando o pequeno chinês de "superpoderes" uma vez que alguns “saltos” foram proporcionados em vias expressas, ao entrar e sair de pontes com certa variação de nível.

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Ao contrário do que se poderia esperar, curso curto não inibe alguma inclinação da carroceria em curvas mais acentuadas. Junta-se a isso o pequeno entre-eixos (menor inércia polar, reações mais rápidas e cruas) e peso concentrado na dianteira (motor sobre o eixo) para que o compacto asiático agrade muito mais ao universitário que vai para a aula ouvindo pop do que ao engenheiro mecânico que dirige ao som de rock. Mas o J2 ainda consegue ser ágil e divertido de guiar. E não será em em compactos com motor 1.0 que "pilotos" ensimesmados, que prefiram imprimir tocadas mais picantes, irão encontrar muita emoção.
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JAC J2 - Detalhe interior (6)O motor 1.4 (que com 1332 cm³ é, em verdade, um 1.3) de 108 cavalos (6000 rpm) e 14,1 kgfm de torque (4500 rpm) se beneficia pelas dimensões compactas do carro e se seu peso, de 915 quilos (nem tão baixo para seu porte). O JAC J2 é bem esperto na cidade, principalmente trabalhando em giros mais elevados – especialmente entre 2500 e 5000 rpm. Em estrada, o desempenho também é bom, mas não parece compatível com os números divulgados pela JAC – velocidade máxima de 187 km/h e a aceleração de 0-100 km/h abaixo dos 10 segundos nos parecem números muito otimistas. Por outro lado, é possível manter tranquilamente velocidades de cruzeiro e, auxiliado pelo bom escalonamento do câmbio, viajar a 110 km/h com as rotações pouco acima de 3000 rpm.

O consumo se mostrou moderado, com médias de 10,5 e 14,5 km/l na cidade e na estrada, respectivamente, quase sempre com ar-condicionado ligado. Vale lembrar que o J2 só bebe gasolina.JAC J2 (15) Um ponto  onde o JAC pode – e deve – melhorar é no isolamento acústico. Em rotações mais altas o barulho do motor invade o interior, e um som constante de ressonância metálica (que lembra um diapasão) torna-se irritante. E aí, infelizmente não adianta apelar para o sistema de som. O aparelho fica devendo recursos básicos, como equalizador ou mera regulagem de graves e agudos, e também na qualidade de recepção (culpa da antena impressa no para-brisas) e na qualidade de reprodução – o som dos alto-falantes não é melhor que o de fones de ouvido baratos. Até há entrada USB, mas em formato mini, que condiciona seu uso à presença de um cabo adaptador.

No mercado

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JAC J2 (17)É verdade que, hoje, frente à nova lei que obriga todos os carros vendidos no país a contarem com airbags dianteiros e ABS, o argumento utilizado pelas marcas chinesas, de vender carros “completos”, deixou de ser tão apelativo. É possível encontrar modelos nacionais compactos dotados desses equipamentos de segurança, mais travas e vidros elétricos, ar-condicionado e direção hidráulica, na faixa de trinta e poucos mil reais.
Mas o J2 vai além na lista de equipamentos, oferecendo também rodas de liga leve, faróis de neblina, retrovisores elétricos, sensores de estacionamento, repetidores das setas nas laterais, regulagem de altura do volante… A lista de itens de série é mesmo longa. Mas, curiosamente, o carro não conta com limpador-lavador do vidro traseiro e regulagem de altura para o bando do motorista – duas coisas que fazem falta no dia-a-dia.
JAC J2 (19) Embora seja inevitável pensar no Kia Picanto como um possível concorrente para o J2, o fato é que o coreano é um carro mais refinado e bem mais caro – oferecendo até opção de câmbio automático. Assim, talvez o modelo que mais se aproxime da proposta do J2 seja o também chinês Chery S18 – que custa exatamente o mesmo preço, tem motor 1.3 de 90 cv e lista de equipamentos tão farta quanto. 
Mas, pensando em posicionamento no mercado, faz mais sentido comparar o J2 a configurações mais equipadas de compactos nacionais, que têm preços próximos ao do chinês e são mais expressivos em volumes de venda. De toda forma, o compacto já é o JAC mais vendido este ano, com 3.479 unidades até junho, contra 2.321 do J3
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Conclusão

Na vida real, o pequeno JAC agrada se consideradas as limitações impostas por sua proposta urbana e pelo preço. 
Se a JAC acertasse pequenas falhas e reduzisse um pouco o valor cobrado, poderia ter nas lojas um produto imbatível.
Como está, o JAC J2 ainda oferece mais equipamentos e desempenho superior, se comparado a seus pares no segmento, além de garantia de 6 anos (5 anos a mais), por preço equivalente. Ele pode ser uma escolha acertada para quem quer algo diferente ou procura um modelo pequeno e ágil, mas bem equipado e acessível, para uso na cidade. Ou para o uso como o segundo (ou terceiro) carro da família.
Mas, diante dos compactos nacionais, que evoluíram em termos de equipamentos, e das pequenas falhas a resolver, o J2 precisa cortar um dobrado.
Com Henrique Rodriguez

Fotos | Henrique Rodriguez, Fábio Abreu e Fabio Perrotta

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