SUV é versátil e agradável no uso urbano, apesar de dever equipamentos
Do japonês, Kaizen representa “melhoria contínua e gradual”, e este é um dos conceitos da filosofia nipônica. As fabricantes japonesas seguem este conceito, e um bom exemplo disso é o Toyota RAV4, que surgiu em 1994 como um dos primeiros utilitários esportivos derivados de um modelo médio – neste caso o Corolla –, mas que ao longo do tempo evoluiu do ponto de vista técnico e mercadológico. Hoje em sua quarta geração, o RAV4 é capaz de atender bem quem precisa de espaço interno, espaço para a bagagem e bom desempenho, mas sem abrir mão de aspectos que apenas SUVs podem oferecer.
Ocorre que a arquitetura deste novo RAV4 é a mesma da terceira geração, mas tratada como nova por usar partes de aço de graus diferentes de rigidez de forma que a estrutura está mais sólida e o conjunto mais leve. O que entrega isso são as dimensões, que foram mantidas (comprimento 4.570 mm, largura 1.845 mm, altura 1.715 mm, entreeixos 2.660 mm), pois se dependesse do design jamais seria notado.
De um carro com design pouco ousado, o Toyota RAV4 passou a ser um carro que impressiona de cara. Quem o transformou foi a nova identidade de design da Toyota, inaugurada lá fora pelo Auris, o hatch do Corolla. Chamada “keen look”, esta identidade é inspirada pelo olhar intimidador e concentrado de atletas antes do início de competições. Isso explica os faróis estreitos e a grade mais alta em forma de “V” notada na dianteira.
Mas foi o mercado e as normas de segurança que implicaram na retirada do estepe da tampa do porta-malas. Já fora de moda ali do lado de fora, o pneu sobressalente foi para o assoalho e a tampa do porta-malas passa a abrir verticalmente, e não mais para a esquerda – característica do projeto japonês, pensado para mão inglesa. Nas unidades 2013, como a avaliada, o pneu em suas medidas normais roubava 71 litros de capacidade do porta-malas, por elevar o piso alguns centímetros. Isso foi corrigido na linha 2014 com a adoção de estepe temporário, mais fino, devolvendo os bons 547 litros de capacidade.
Também há evolução no conjunto mecânico. A versão avaliada é a mais em conta, 2.0 4×2, que custa hoje R$ 101.820, dotada do mesmo conjunto mecânico que será encontrado na nova geração do Corolla – cujo lançamento no Brasil está previsto para março. A diferença está apenas no gosto do motor 2.0 Dual VVT, que ingere apenas nossa gasolina com 25% de teor alcoólico – mas flex no Corolla. Este tem bloco e cabeçote confeccionados em alumínio, quatro cilindros e 16 válvulas com duplo comando variável e aspiração natural e gera 145 cv de potência e torque de 19.1 kgfm a 3.600 rpm. A grande novidade é o câmbio CVT (continuamente variável) que simula sete marchas em modo sequencial, grande evolução diante da antiga transmissão automática de 4 velocidades.
Medida certa
O conjunto mecânico é valente e confere desempenho compatível com as pretensões familiares deste SUV com pinta de crossover e que pesa 1.525 quilos. No uso urbano ele consegue lidar satisfatoriamente com toda essa massa, encarando bem subidas e eventuais retomadas, apesar de ser notada certa morosidade para embalar até que o motor consiga entregar torque suficiente. Mas é na estrada, na hora que se exige o motor para ultrapassagens, que o RAV4 sente o peso nas costas. O lado bom do CVT, é que a qualquer momento que se reduza a pressão o acelerador o câmbio reduz os giros ao máximo, reduzindo drasticamente os giros e o consumo. Mas é bem verdade que colocar o câmbio em modo manual torna a condução mais empolgante, podendo realizar as trocas em giros mais elevados movimentando a alavanca.
Na hora de domar todo o ímpeto do motor, o sistema de freios, à disco nas quatro rodas e com ABS, EBD e BAS, se mostra eficiente e o pedal tem boa modulação, mas não é o melhor conjunto do segmento. A precisão nas tomadas de direção se deve, em partes, à suspensão, independente nas quatro rodas, sob o esquema McPherson na dianteira e double wishboune na traseira, e também à direção com assistência elétrica. Para um carro alto e um tanto pesado, o RAV4 demonstra comportamento bastante tolerante em curvas e em rápidas mudanças de direção, mesmo que a calibração da suspensão seja voltada para o conforto. O bom é que ressaltos do asfalto são absorvidos, bem como pequenos buracos, o que é algo notável em um carro calçado com rodas de 17” e pneus 225/65 (Dunlop, diga-se).
No convívio
Peço desculpa antecipada pela comparação, mas o Toyota RAV4 é tão versátil quanto um Honda Fit. É mais espaçoso, com certeza, mas o aproveitamento de espaço interno é exemplar como no monovolume. Características que também compartilham é a versatilidade e praticidade do interior. Ao puxar uma alavancas posicionadas nas laterais do assento traseiro é possível reclinar o encosto ou mesmo rebater o assento inteiro e deixá-lo no mesmo nível do porta-malas. Além disso, o terceiro ocupante tem seus próprios encosto de cabeça e cinto de três pontos – que sai do teto, como no Fit, que também tem assoalho totalmente plano atrás.
Apesar de ser fabricado no Japão, o RAV4 tem características que revelam certa preocupação em agradar os norte-americanos. Os bancos são largos – oferecendo ótimo apoio para as pernas e a coluna -, os botões grandes e acessíveis e há porta-objetos onde quer que você olhe. Mas nos Estados Unidos o RAV4 é o crossover mais em conta da Toyota, e isso explica algumas ausências que no Brasil, onde custa mais de R$ 100 mil, pega mal.
Em matéria de equipamentos o RAV4 pode ser posicionado entre o Etios e o Corolla. Nesta versão, 2.0 4×2, não há revestimento em couro nos bancos, há apenas airbags dianteiros e apenas o vidro do motorista possui função “um toque”. Também não há piloto automático, iluminação ou refrigeração no porta-luvas e nem mesmo chave canivete. O acabamento interno é simples, com plásticos duros porem sempre com bons arremates e encaixes. É notada certa preocupação com a aparência ao simular textura de fibra de carbono no console e na área dos vidros elétricos, e ao notar que a parte inferior do painel apenas simula revestimento em couro.
Sejamos justos: apesar de bancos com regulagem elétrica estarem disponíveis apenas nas versões mais caras, é extremamente fácil encontrar posição correta e confortável para dirigir, tendo o assento regulagem de altura e o volante, regulagem em altura e profundidade. O quadro de instrumentos tem boa leitura e tudo está ao alcance das mãos do motorista. Tudo é muito prático! Além disso, o isolamento acústico é outra boa característica herdada do mercado norte-americano: nem mesmo os limpadores de para-brisa emitem ruído!
A relação de amor e ódio entre o Custo e o Benefício…
Apesar de se destacar em aspectos relevantes, o Toyota RAV4 fica devendo quanto a lista de equipamentos. A versão 4×2 dispões do básico em modelos de seu naipe: ar-condicionado manual, luzes de neblina na dianteira e na traseira, volante multifuncional revestido em couro, ISOFIX, sistema de som com CD player, leitor MP3, entradas USB e auxiliar e conexão Bluetooth, sensores de estacionamento, computador de bordo e trio elétrico. Itens como teto solar, dispositivo de partida sem chave, cruise-control, câmera de ré e ajuste elétrico dos bancos, revestimento em couro e airbags laterais e de cortina são restritos às versões mais caras. E nenhuma das três versões disponíveis no Brasil contam com controles de estabilidade e tração. Veredito: Se Toyota RAV4 2.0 4×2 contasse com a mesma lista de equipamentos da versão 2.0 4×4 (R$ 119.990), ou tentasse equiparar seus equipamentos ao Corolla XEI, mantendo seu preço em R$ 101.820, seria uma opção muito mais conveniente do que é hoje.
Galeria
Fotos | Fabio Perrotta (Portfolio)