Modelo teve história interrompida no país por erro tático e crise financeira
Revolucionário. Assim pode ser descrito o Corsa, em março de 1994, quando chegou ao Brasil. Com o símbolo da Chevrolet, a segunda geração do menor modelo da Opel – Vauxhall no Reino Unido – chegou ao nosso país para aposentar o Chevette Júnior e, de quebra, modernizar o mercado de entrada, dominado por Uno Mille, Gol 1000 e Escort Hobby. Frente a concorrência, que já estava no mercado sem grandes modificações desde a década de 1980, o desenho arredondado inovou, mas a criatividade do brasileiro não pouparia o compacto de receber o apelido de “Kinder Ovo”, chocolate em forma oval que naquela época não era objeto de ostentação.
Em abril de 1994 a revista Quatro Rodas colocava o Corsa de frente com seus concorrentes
Com a chegada da versão Wind, o modelo trazia acabamento superior aos concorrentes, painel de instrumentos moderno, bancos mais confortáveis – além do encosto de cabeça vazado, uma marca do modelo; e desenho quebrando os padrões da época, o que agradou ao público e o tornou um sucesso de vendas logo no início. Se no exterior o Corsa era simples com os para-choques pretos e as rodas de aço com calotinhas tampando a parte central, em que os parafusos estão localizados, ao rodar ele era mais confortável que os concorrentes. E mais moderno também, já que debaixo do capô o modelo trazia novidades: era o primeiro popular com injeção eletrônica. O câmbio de cinco marchas tinha a quinta mais longa para interferir a favor do consumo, que alcançava até os 18 km/l em uso rodoviário. Se por um lado a autonomia era favorecida, a potência deixava a desejar. O bloco 1.0 gerava apenas 50 cavalos e 7,7 kgfm e era deixado para trás pelo modelo da Fiat.
Boas vendas e a família aumentava
Os números do Corsa surpreenderam à própria General Motors do Brasil. “A procura pelo Corsa superou as nossas expectativas. É, sem dúvida, um carro de primeiro mundo”, disse André Beer, vice-presidente da Chevrolet do Brasil, na época, em propaganda. O executivo da marca ainda disse que a produção seria aumentada e sugeria que o consumidor esperasse o aumento da produção, ao invés de pagar ágio para adquirir um. Pouco depois do lançamento, o Corsa ganhava a versão GL, com motor 1.4 de 60 cv e 11,1 kgfm de torque, que dava melhor desempenho e mais luxo ao modelo da Chevrolet: agora era possível ter no veículo um ar-condicionado, vidros e travas elétricos . Mas, em uma era de esportivos, como o Gol GTI e o Uno Turbo, o Corsa também daria sua resposta. A versão GSI, que já tinha a sigla como um símbolo de esportividade no Brasil com o Kadett (que teve até variação conversível) e com o Vectra, dessa vez vinha ao pequeno.
Versão esportiva trazia propulsor moderno e de bom desempenho (Fotos: Página Autoretrô)
Do lado de fora, os para-choques mais robustos e na cor da carroceria, os faróis de neblina, as saias laterais, as rodas de liga leve de 14 polegadas e três raios e o aerofólio chamavam atenção. Para um comportamento dinâmico mais esportivo, os amortecedores eram pressurizados e a suspensão redimensionada. Mas a principal atração do Corsa estava debaixo do capô. Um bloco 1.6 16v Ecotec de 108 cv, de alta tecnologia, produzido na Hungria, trazia injeção multiponto sequencial e válvula de recirculação dos gases de escapamento ou Exhaust Gases Recirculation (EGR), que colaborava para que o propulsor atendesse a exigentes normas europeias de emissão de gases. Para chegar aos 100 km/h, partindo da imobilidade, eram necessários 9,2 segundos. A velocidade máxima era estimada em 192 km/h.
Utilitário fazia parte da linha 96 da Chevrolet
Em 1995, a família aumentava. Se o modelo substituía o antigo Chevette Junior, a pick-up Chevy 500, da mesma linha do antigo Chevrolet, também dava adeus, a uma versão pick-up do compacto. Com entre-eixo 37 mm maior que o hatch a suspensão traseira com eixo rígido surpreendia nas curvas. O responsável por locomover o veículo era um bloco 1.6 de 79 cavalos.
Versão quatro portas trazia design próprio na traseira e porta-malas maior
Alguns meses após a chegada do utilitário vinha a versão de cinco portas que, depois da porta dianteira, tinha personalidade própria em relação ao duas portas. Após as portas traseiras, uma ampla janela espia. Peculiar também era o espaço no porta-malas do modelo cinco portas: 280 litros, 20 a mais do que no três portas. Passado pouco mais de um ano do lançamento, o sucesso do nome Corsa já se tornava evidente no mercado brasileiro. Em novembro de 1995, era lançado o três volumes da linha, com desenho nacional. O Corsa Sedan, que tinha as versões GL e GLS, era movido por um bloco 1.6 com injeção multiponto (Multi Point Fuel Inject, ou MPFI) e bom torque em baixas rotações: 13 kgfm a 2.800 rotações por minuto e 92 cavalos; que o tornava um carro agradável no anda e para das cidades.
Revisões nos motores: multiválvulas
Em seguida, o motor 1.0 seria revisto e ganharia a injeção multiponto. A potência subia dos 50 cv para 60 cv e não era por acaso: a Fiat havia lançado o Palio, que na sua versão “mil” tinha 61 cavalos, e era o mais potente do mercado. O Gol já havia sido renovado e estava na geração “bolinha” e a Ford trazia o Fiesta nacional. Logo depois, o motor 1.4 era aposentado e o 1.6 do sedan passava a ser adotado na versão GL do hatch.
A chegada da perua completou a família e, de quebra, trouxe motor 1.6 16v, dividido com o sedan
Em 1997, chegava a última integrante da família: a perua. Intitulada Corsa Wagon, passava a oferecer na versão GLS, topo de linha, um motor 1.6 16v de 102 cavalos, que seria dividido com a mesma versão do três volumes, que por sua vez oferecia até câmbio automático de quatro velocidades – o automático mais barato da época. Dois anos mais tarde, o motor 1.0 também passaria a ter as 16 válvulas na versão Super: eram 68 cv e 9,2 kgfm de torque. Este bloco seria descontinuado mais tarde, em 2002.
Os retoques no desenho deram nova vida ao Corsa
No mesmo ano, era apresentada a linha 2000, com uma remodelação nos para-choques, faróis e lanternas. No interior, novos bancos (incluindo o revestimento) e grafia no painel. Em 1999, o Corsa fechou o ano como o carro mais vendido do mundo. Para quem está acostumado a associar lançamentos de carros a datas e acontecimentos relevantes, no ano do penta da seleção brasileira chegava ao país uma nova geração do Chevrolet. A terceira geração (ou apenas Corsa “C”) chegou em 2002 e passou para o Celta – modelo mais espartano lançado um ano antes – o papel de carro de entrada da marca.
Em 2002, o Corsa deixava o papel de carro de entrada para o Celta e, mais uma vez, mudava significativamente o mercado
Com linhas mais jovens, o Corsa era reinventado. Era tudo novo. Entre as novidades estava o nome da nova pick-up: Montana, um sucesso de vendas enquanto derivada do Corsa (e um tanto desastrada quando passou a ser membro da família Agile). Mesmo a Wagon não acompanhando a nova geração, seu lugar na família não ficaria vago. Entrava em cena um novo integrante na família: o monovolume Meriva que teve produção encerrada no país no mesmo ano do Corsa.
A versão esportiva SS trazia apenas de esportivo apenas os adereços estéticos
Enquanto a matriz, nos EUA, passava por grave crise financeira, a Chevrolet precisava renovar seu portfólio no Brasil. E assim a história do compacto alemão no país durou até 2012, quando foi descontinuado em terras brasileiras para a entrada do Onix.
Resquícios em linha
Vestido de Sail, Corsa continua fabricado no Brasil apenas com o nome Classic
Rebatizado de Classic, o Corsa Sedan, que já havia sido chamado de Corsa Classic, continua em linha após duas remodelações, hoje com a dianteira do antigo Sail. Mesmo após a entrada da lei que obriga o airbag e o ABS, o modelo continuou em linha. Como o modelo teve estes itens como opcionais no passado, não foi difícil colocá-los de volta.
Os hermanos tiveram a perua com frente do atual Classic. Aqui, ela encerrou a carreira mais cedo
Na Argentina, a versão Wagon foi fabricada até 2012, com a dianteira do Classic em linha atualmente no Brasil e que chega ao país vindo de Rosário, na terra do tango. Na Europa, o Corsa continua em linha. Aqui, ele continua presente mesmo que de forma muito discreta: o sedã Cobalt, posicionado entre Prisma e Sonic, o Onix e a minivan Spin utilizam a plataforma da quarta geração (Corsa “D”) do modelo que não pisou oficialmente em solo tupiniquim.