Audi A3 Sedan Attraction – Não subestime os números

Henrique Rodriguez
22/10/2014
17:00

Com 122cv, sedã mostra que números só tem valor para o Super Trunfo

Às vezes nos deixamos enganar por números. Não falo do caderno de 96 folhas que veio com 89, nem de estatísticas manipuladas. Este Audi A3 Sedan Attraction tem um motor 1.4 de 122cv. Isso é ruim? Claro… que não! Este carro só prova o quão errado é considerar um carro por sua potência e pelo tamanho do motor em tempos de downsizing.
Jogo rápido: a potência é exatamente a mesma de um Peugeot 208 1.6 abastecido com álcool, mas este só tem 16,4kgfm. O A3 tem 20,4kgfm, o mesmo que um Corolla 2.0 de 154cv. Não parece uma discrepância tão grande, mas o Audi entrega todo o torque aos 1.400rpm, enquanto os outros só dão o melhor de si acima dos 4.000rpm. Bom, quantas vezes o motor de seu carro passou dos 4.000rpm esta semana? A culpa é do Super Trunfo, aquele jogo inocente que fez você crescer venerando a velocidade máxima de carro sem saber que aquele que ilustra a carta "perdedora" é capaz de divertir mais com suas saídas fortes e retomadas agressivas. E é isso o que você quer sentir no dia a dia, onde a graça está em alcançar o limite da via mais rápido após o sinal abrir. No Super Trunfo do downsizing ganha o carro que mostra a que veio mais rápido.

Neste momento você já deve estar se perguntando o que há neste motor 1.4 para que a mágica aconteça. Não é mágica e nem há duendes dentro de cada um dos quatro cilindros, mas sim a combinação certeira de um turbo pequeno com injeção direta de combustível, variação na abertura das válvulas de admissão e o perfeccionismo alemão – por mais que este A3 Sedan seja húngaro – resumida na traseira na por um singelo 1.4T. É bem verdade também que o câmbio automatizado de dupla embreagem S-Tronic, de sete velocidades, entende o motor como se ambos fossem velhos amigos. Você olha o retrovisor na intenção de uma ultrapassagem e justo na hora que você exerce mais pressão no acelerador o câmbio já joga duas marchas para baixo e pronto: toda a força que você precisa já chegou às rodas dianteiras. É que em modo Drive o sistema joga para a marcha mais alta possível para economizar combustível.

E economiza mesmo! Na cidade, média de 11km/l e é bem verdade que o sistema Start-Stop colabora. Na estrada é possível chegar aos 16km/l, mas é difícil viver sem colocar no modo Sport para esticar mais as marchas. Apesar de toda essa vivacidade, nas cartas a vantagem deste A3 sobre um Corolla não seria tão grande. Enquanto o teuto-húngaro vai de 0 a 100km/h em 9,4s com máxima de 212km/h, o nipo-brasileiro vai da inércia aos 100km/h em 9,6s e não passa dos 196km/h. Nada mal para nenhum dos dois, diga-se, mas a vitória do Audi é mais do que merecida.

Quatro argolas de um outro ângulo

Algo que ainda não disse é que este belo sedãzinho vermelho se apresenta na versão intermediária Attraction, que sai por R$ 103.000, mas que neste caso vai aos R$ 108.200 por causa do teto solar elétrico Open Sky, único opcional presente versão avaliada. A versão de entrada, sem nome, custa a partir de R$ 94.800, mas perde o volante multifuncional e o sistema de som MMI com Bluetooth e CD player (no porta-luvas) – mas sem navegador – e as borboletas para trocas sequenciais.

Não faltam pacotes opcionais, justamente por ser notável a falta de alguns equipamentos. Os bancos não são de couro, não há retrovisor antiofuscante nem sensores de chuva e crepuscular ou sensores de ré. Isso tudo pode ser pago a parte, assim como as rodas aro 17" – de série são 16". Mas, no final das contas, equipado custaria R$ 119.200, mais do que os 118.200 pedidos pela versão sem nome equipada com o motor 1.8 TFSI com 180cv. Perderia sua razão de existir.

E olha que nem somei os R$ 9.900 da central MMI com GPS! Cá entre nós, por este preço sairia mais barato se dar ao luxo de ir em Miami apenas para comprar o iPad mais caro para deixar no carro e eventualmente usar como GPS… Continuando a lista de chamadas, não gritam “presente” ar-condicionado automático digital, banco do motorista com regulagem elétrica, partida sem chave, piloto automático e nem faróis de neblina. Ainda que no passado tenha existido Audi A3 com motor 1.6 8v de 102cv no Brasil, é estranho se acostumar a um Audi simples.

Mas isso não chega a ser de todo ruim… O tecido dos bancos é bom e até o do passageiro tem regulagem de altura (manual…), os faróis bi-xênon são de série e, como manda a lei, tem lavadores e, bem, nem mesmo o S3 Sedan que chega a 100km/h em 4,9s tem keyless. Inadmissível seria não ter Bluetooth, mas esta versão tem.

Talvez o erro esteja em olhar este carro como um sedã médio. São 4,45m de comprimento e 2,63m de entre-eixos em tempos de sedãs médios com 4,60m e 2,70m, na ordem. Na pratica, o A3 Sedan representa um sedã compacto premium na linha da Audi, de forma que o A4 mantém seu posto de sedã médio. Daí a ausência de certos equipamentos e de alguns mimos. Você não vai morrer por estas faltas Mas as quatro argolas protegem o modelo do corte de equipamentos de segurança. Há airbags frontais, laterais e para o joelho do motorista, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas, controles de estabilidade e tração, freio de estacionamento eletrônico e freios ABS com distribuição da força de frenagem (EBD) e brake assist, sendo que são a disco nas quatro rodas e ainda há Auto Hold, que segura o carro não apenas em aclives mas até mesmo no plano – e nota-se isso na hora de acelerar o carro. No quesito segurança o Audi A3 Sedan é um dos melhores do baralho.

Tão simples, como lidar?

Sedãs na faixa dos R$ 100 mil são médio-grandes: não empolgam, tem bom espaço interno, um motor suficiente para que escapem da classificação de “lentos” e lista de equipamentos respeitável. O público do A3 Sedan é outro, que não está preocupado com o espaço mas sim com a pegada do carro e com o comportamento dinâmico. E é justamente quem não se importa com o espaço atrás quem mais vai curtir o carro. Por mais que haja bom espaço para dois no banco de trás – pois um plástico que se molda aos joelhos de quem vai ali – é interessante perceber como é fácil mudar isso. Dá para tranformá-lo num 2+2 recuando e abaixando os bancos e volante, de tão grande que é a variação dos ajustes. O formato do painel quase lhe obriga a isso. Daí o motorista se pega dirigindo como se estivesse num Audi TT, colado no chão… Só não se transforma em concorrente do novo Honda Civic Si pois a versão 1.8 faz isso melhor.

Dinamicamente não há comparação entre as classes. Nos outros preza-se por conforto e no A3 Sedan a “graça” está no simples fato de ter uma pegada esportiva sem ser desconfortável. A suspensão absorve muito bem as imperfeições do asfalto e garante tomadas de curva exemplares, com limite inalcançável na vida real. Mas se rende aos buracos e bate seco. A direção tem auxílio elétrico e é bastante direta e com peso progressivo, mas a unidade avaliada estava com o volante visivelmente desalinhado e a forma como o carro vibrava acima dos 100km/h também indicava desalinhamento das rodas dianteiras. Se mesmo assim o A3 não transmitia insegurança, com tudo certo seria muito melhor.

Um pecado que não vale apenas para a unidade avaliada está no isolamento acústico. Acima dos 110km/h o barulho de vento, de rolagem dos pneus e até mesmo do motor, mesmo em sétima marcha, é mais alto do que deveria ser. Do ponto de vista de sedã compacto premium, o Audi A3 Sedan agrada. Ele não foi feito para substituir o A4 e isso é um grande acerto: abre as portas para um público mais jovem e, naturalmente, despojado. Uma galera que há 15 anos jogava Super Trunfo. Deu tão certo que hoje é o segundo modelo da Audi mais vendido no Brasil, com 1.736 unidades emplacadas até setembro. O mais vendido é o Q3, com 2.759 unidades. Não é à toa que serão montados em São José dos Pinhais (PR) a partir do mês que vem.

Galeria

Fotos | Fabio Perrotta

Ficha técnica do Audi A3 Sedan Attraction 1.4 T

Origem: Hungria Preço: R$ 103.000 (R$ 108.200 avaliado, com teto solar) Motor: a gasolina, quatro cilindros, 16 válvulas, injeção direta, turbo, 1.395cm³; potência de 122cv (entre 5.000 e 6.000rpm) e torque de 20,4kgfm (entre 1.400 e 4.000rpm) Transmissão: câmbio automatizado de sete marchas. Tração dianteira Suspensões: McPherson na frente e multibraço atrás Freios e pneus: a disco; 205/55 R16 Dimensões e peso: 4,45m de comprimento e 2,63m de entre-eixos; 1.215kg Desempenho: 0 a 100km/h em 9,4s e máxima de 212km/h Consumo: 10,5km/l na cidade e 16,1km/l na estrada