Audi S3 Sedan

Audi S3 Sedan – Potência e conforto na medida certa

Henrique Rodriguez
06/11/2015
14:09

Tração integral e 280cv para um sedã de 4,46m

Em geral, os carros ficam sete dias conosco para avaliação. 168 horas, contadas de forma regressiva no caso do Audi S3 Sedan. Tudo porque as sensações que este carro transmite vão muito além do que se espera de um sedã compacto esportivo, e elas precisam ser devidamente aproveitadas.

Grandes são as rodas aro 18” calçadas com pneus 245/40. Os 4,46m de comprimento, 2,63m de entre-eixos e 1,39m de altura deste Audi são corretos um mundo de carros cada vez maiores. Mesmo entre os esportivos. O próprio A3 Sedan só tem sua razão de ser, pois o A4 só cresceu a cada geração que passou e se afastou do A3.

Por ser baixo, o S3 transforma a operação de entrar no carro quase em um mergulho. Mesmo que você não goste de sentar rente ao chão, o painel baixo e envolvente te obriga a isso. Não tem problema: o banco tem ajuste elétrico e as regulagens de altura e profundidade do volante tem variação enorme.

O interior repete o mesmo conceito do exterior. Função e forma caminham juntos sem exageros, mas sem esquecer a qualidade. Plásticos são emborrachados, tudo que brilha realmente é metálico e até o barulho dos comandos do console é correto. Todas as sensações são trabalhadas, até o olfato, com o cheiro característico do couro que reveste bancos, volante e parte das portas. Mas não espere por grandes mimos, nem por partida no botão ou câmera de ré. O tal mimo é o motor.

Para os leigos, magia. Para os entendidos, alquimia

E o quebra-cabeças começa a ser montado. Escondido pela carroceria enxuta está um motor 2.0 TFSI com turbo, que pressuriza o ar admitido até 1,2bar – há um mostrador para isso nos instrumentos. E a injeção se alterna entre a convencional e a direta em busca do melhor desempenho para o que se exige do motor em cada situação.

O motor se esforça com a gasolina brasileira. Rende 286cv (contra os 300cv que tem lá fora) aos 5500rpm – sendo que a faixa vermelha do conta-giros só começa aos 6500rpm. Já os 38,7kgfm de torque máximo surgem já aos 1800rpm, e são dominados pela transmissão S-Tronic, com embreagem dupla e trocas rapidíssimas.

A força é distribuída entre as quatro rodas pelo sistema de tração integral quattro. A preferência é das rodas dianteiras, mas cabe ao diferencial Haldex, com acoplamento viscoso e que atua sob demanda, analisar aceleração e condições de aderência antes de enviar força para as rodas de trás.

Primeira lei de Newton

Uma pisada no acelerador – pivotado no assoalho, como em um Fusca – e um ronco grave ecoa pelas quatro saídas de escape ao mesmo tempo que meu corpo luta contra o banco e os efeitos da lei da inércia. Tudo é muito rápido e intenso, com direito a trocas de marcha acompanhadas de uma embaralhada no ronco.

Isso é viciante, meu amigo. Você começa digerindo as sensações, entende a fera e logo a sensação entre homem e máquina será tão próxima que você se torna capaz de perceber o momento que as rodas de trás começam a ganhar importância nas acelerações.

Acredite: a puxada nas saídas é muito forte. Supera as sensações que se tem em um Chevrolet Camaro, que tem o dobro dos cilindros e o triplo do deslocamento. E os dois esportivos têm a velocidade máxima limitada a 250km/h, mas o Camaro é 0,1s mais rápido no 0 a 100km/h: 4,8s contra 4,9s. Mas bastará colocar os dois em um circuito cheio de curvas para o S3 provar que em acerto dinâmico está anos-luz à frente.

A bossa do Audi S3 Sedan é que este pode ter “sangue nos olhos” apenas quando lhe é conveniente.

O botãozão giratório no console não serve apenas para comandar o bom som da Bang & Olufsen, ou para escrever com o dedo o para onde você quer que o navegador te leve. Por ele, ou mesmo por um botão acima do ar-condicionado, é possível alternar entre os modos “comfort”, “auto”, “dynamic”, “efficiency” e “individual”. Estávamos no “dynamic”, o que explica muita coisa…

A graça é que, basta um toque no botão para o S3 se transformar em um reles A3 potente. No modo “efficiency”, a direção fica mais leve, a resposta do acelerador fica mais lenta e as marchas são trocadas mais cedo, em prol do melhor consumo de combustível. Além disso, o sistema start-stop tem atuação permitida para desligar o motor quando o carro estiver parado.

Mas rodamos a maior parte do tempo no modo “individual”, configurado para misturar o ronco do “dynamic” com o desempenho do modo “comfort”. Não é nada divertido pegar trânsito com a pegada brutal do “dynamic”, mas o ronco encorpado sempre é bem vindo. E o consumo médio foi de 7,8km/l na cidade. Vale cada mililitro de “ouro líquido” queimado nas combustões.

No fundo, é como aquele garoto engomadinho que parece um santo sob os olhos dos pais, mas que se transforma num pimentinha quando eles viram as costas. E quase sem dar pistas disso. Só com um pouco mais de atenção para perceber que o para-choque dianteiro tem tomadas de ar maiores e o traseiro, um extrator que encobre as quatro saídas de escape. Para a massa, passa como um A3 Sedan vermelho, ou simplesmente “mais um Audi”. Inocentes…