Versão topo de linha tem equipamentos interessantes, já o preço…
Não existe isso de sorte de principiante. Se o Hyundai HB20, lançado em 2012, conseguiu a vice-liderança em vendas, foi por esforço próprio. Foi o primeiro carro da Hyundai desenvolvido exclusivamente para o Brasil, se espelhando no que era considerado bom por aqui. Agora, teve a chance de se renovar e ficar páreo para os concorrentes que mudaram nos últimos três anos. Mas será que ele se superou?
O jeito mais fácil de identificar um HB20 2016 é olhando para a dianteira. A grade hexagonal com moldura cromada surge onde antes havia uma barra pintada e na base do para-choque há uma tomada de ar que interliga os faróis de neblina – se o carro tiver, não é o caso das versões Comfort e Comfort Plus. Atrás, a única mudança comum a todas as versões é o para-choque com refletor mais comprido, que começa no nicho da placa.
Você já deve ter percebido que o carro das fotos tem mais coisas. Pois bem: as novas lanternas só estão disponíveis a partir da versão Comfort Plus e este belo farol com projetor elíptico e linha de LEDs que substitui a luz de posição (lanterna) é exclusividade da versão Premium, justamente a que foi avaliada por nossa equipe. São elementos chave na tentativa da Hyundai de deixar o HB20, de fato, mais “premium”.
Essa tendência fica clara quando se vê o interior deste pequeno Hyundai. Há ar-condicionado automático digital de apenas uma zona, airbags laterais – além dos dois airbags frontais obrigatórios -, e retrovisores com rebatimento automático, que abrem e fecham ao toque de um botão no painel ou ao travar o carro na chave canivete. Gostou da central multimídia blueMedia? Bem, é opcional de R$ 2.500. Mas, se assim como nós você não gostou dos bancos, portas e alavanca de câmbio com couro marrom, boa notícia: não precisa pagar R$ 1.590 a mais por isso. Não, não há opção de couro preto.
Com tudo, inclusive o câmbio automático de seis marchas (falarei dele adiante) que é de série na versão Premium, este Hyundai HB20 sai por R$ 63.535, ou R$ 59.445 sem os opcionais. É aí que entra nosso trabalho de “sommelier de carro”: vale à pena ou não?
99% premium, mas aquele 1%…
“Uau, um Hyundai com rebatimento dos retrovisores elétrico e bancos de couro marrom, e não é um Azera hatch!” Se foi esta sua primeira impressão, meu caro, saiba que no convívio você sentirá falta de algumas amenidades. Se der uma batidinha na haste da seta ela não piscará três vezes, não há como descansar o pé direito pois nem mesmo esta versão com câmbio automático tem piloto automático e não há “bip” para lembrar que os faróis ficaram acesos. Mas esta versão tem acendimento automático dos faróis e é melhor mantê-la ativada.
Também é pecado não ter controles de estabilidade e tração à esta altura. E o fato de nem mesmo o i30 “mais em conta”, de R$ 83.900, não ter tais sistemas não serve de justificativa: o i30 também não tem airbags laterais.
A central multimídia é um capítulo a parte. O aparelho que era de série até a linha 2015 tinha GPS nativo e TV digital. A nova, opcional, entra na moda do espelhamento de tela e delega todas estas funções ao smartphone. Mas não pode ser Windows Phone, nem Asus, Motorola ou qualquer marca que não sejam Samsung e LG. Quem faz a ponte entre o aparelho e a central é o aplicativo CarLink, que só é compatível com aparelhos das marcas coreanas. Ele usa uma rede Wi-Fi própria para receber imagem da tela do smartphone e, também, controlá-lo.
Ficamos na parcela dos que não têm aparelhos compatíveis e podem se dar por satisfeitos com o rádio com Bluetooth e USB padrão. Para quem usa um iPhone, porém, a boa notícia é que em breve uma atualização tornará a central compatível com o Apple CarPlay.
Para um carro de quase R$ 64 mil, ainda falta um tato mais requintado. O couro não ajuda os bancos a serem mais confortáveis e a regulagem de altura, na verdade, regula a inclinação do assento, como no Volkswagen Gol. Pelo menos o volante tem regulagem de altura e profundidade.
Ao volante, a redenção
Na parte dinâmica, a Hyundai segue a receita básica. Ninguém precisa inventar uma receita nova para agradar seus convidados, um feijão com arroz bem feito é sempre sucesso. Começa pelo motor 1.6 16V flex ajustado. Perdeu o tanquinho de partida a frio e ganhou sistema e-start, que aquece o combustível antes da partida em dias frios, além de componentes que diminuem o atrito interno das peças móveis (o que melhora o consumo) e alternador mais “leve” para o motor. Só que mantém os 128cv a 6000rpm e 16,5kgfm de torque a 5000rpm quando com álcool no tanque. Continua bom para os 1.071kg do pequeno Hyundai.
O que faltava ao HB20 não era motor, era câmbio, marchas! Se a antiga transmissão de quatro marchas limitava o ímpeto do modelo, a nova de seis deixa o 1.6 trabalhar com folga. A sexta marcha funciona como overdrive, para a sorte do consumo, das emissões de poluentes e do nível de ruído em altas velocidades.
A sociedade entre motor e câmbio merece elogios. O funcionamento dos dois é sempre alinhado e as marchas mais elevadas entram em ação rapidamente quando o motorista alivia o pé no trânsito. São poucas as vezes que é notada uma indecisão quando força é exigida, mas as reduções para retomadas poderiam ser mais rápidas. Na dúvida você pode usar as trocas sequenciais, coisa que a antiga caixa ficava devendo.
Falando em consumo, talvez se não fosse ele, poderíamos dizer que essa é uma sociedade perfeita. Durante nossa avaliação, o HB20 fez médias de 7,5km/l na cidade e 10km/l na estrada, sempre com etanol no tanque de combustível. Não são as piores, mas esperávamos mais de um conjunto tão acertadinho e preocupado com a eficiência…
A dirigibilidade, porém, é boa tanto na cidade, quanto na estrada. O conjunto da suspensão é acertado, com foco no conforto. Não chega a deixar o carro mole e instável durante uma sequencia de curvas de serra por exemplo, mas percebe-se que a firmeza do conjunto tem seu limite. Nada muda no HB20 quanto a isso, nem quanto a direção hidráulica (não, não é elétrica), que continua leve em excesso mesmo em velocidades um pouco mais altas.
E, mais importante que a garantia de cinco anos é que há revisões com preço fechado até os 100.000km. Até lá, o proprietário de um HB20 Premium como este gastará R$ 4.568. Para efeito de comparação, as revisões de um Renault Sandero 1.6 até os 60.000km custam R$ 4.191.
Vale?
O Hyundai HB20 conseguiu evoluir no que já tinha de melhor, que são o design e o conjunto mecânico. Nós ainda o adoramos, mas apenas nas versões que não tentam esconder que ele é um bom compacto. Airbags laterais, ar digital e rebatimento dos retrovisores são equipamentos interessantes, mas não são suficientes para justificar seus R$ 59.445 iniciais. Há opções melhores no mercado.
Quer um HB20 1.6 de qualquer jeito? Olhe com carinho para as versões Comfort Plus (R$ 48.745 MT e R$ 52.745) e Comfort Style (R$ 51.845 MT e R$ 55.845 AT). A primeira usa calotas aro 15″ e não tem faróis de neblina, enquanto na segunda há rodas de liga leve, iluminação no porta-malas e as novas lanternas. Rádio com Bluetooth, direção hidráulica e vidros elétricos nas quatro portas são de série nas duas.
Ficha Técnica – Hyundai HB20 Premium
Origem: Piracicaba
Preço: R$ 59.445
Motor: gasolina, quatro cilindros, 16v, 1.591cm³,potência máxima de 128cv (a 6.000rpm) e torque máximo de 16,5kgfm (a 5.000rpm)
Transmissão: automática de seis marchas. Tração dianteira
Suspensão: McPherson na frente e barra de torção atrás
Freios: a disco ventilado nas frente, tambores atrás
Dimensões: 3,90m (comprimento); 2,50m (entre-eixos); 1,47m (altura) 1,68m (largura)
Pneus: 185/60 R15
Peso: 1.071kg
Porta-malas: 300 litros
Desempenho: 0-100 em 10,6s e máxima de 191km/h
Consumo: 7,5km/l na cidade e 10km/l na estrada