Versão automática é convidativa, mas desempenho deixa a desejar
Todo mundo tem um conhecido bipolar. Aquele tipo de pessoa que em um momento está rindo e de bem com a vida e, num piscar de olhos, torna-se aquela pessoa chata, reclamona e que está sempre de cara feia. O Jeep Renegade é um bom exemplo de bipolaridade na indústria automotiva. Suas motorizações são tão extremas quanto o céu e a terra ou a água e o fogo, por exemplo.
Com motor 2.0 turbodiesel, impressiona por ter força a todo momento sem que isso prejudique o consumo. Mas dele falaremos nas próximas semanas em ocasião especial. O assunto hoje é o Jeep Renegade Sport com o motor 1.8 Flex e câmbio automático de seis marchas. Custa R$ 81.990 e tem em sua mira Honda HR-V, Ford Ecosport e Chevrolet Tracker.
Quando o Renegade foi anunciado, este que vos fala ficou bastante animado. Design interessante, projeto convincente e a proposta de ser um Jeep acessível, mudando a imagem da marca, me empolgaram. O Jeep Renegade já nasceu como um utilitário esportivo pequeno, não é derivado de carros de compactos como os concorrentes. Isso traz vantagens e desvantagens em proporções iguais.
Peso nas costas
Sabe aquele dia que você precisa ir trabalhar e resolver as pendências diárias, mas acorda exausto e faz tudo como se estivesse carregando a cama nas costas? Então, é mais ou menos essa sensação que o Renegade passa. O conhecido motor 1.8 16V E.torQ Evo da Fiat recebeu comando variável de válvulas e passou por uma recalibração antes de ser usado pela Jeep. Rende 132 cv e 19,1 kgfm de torque, mas nem mesmo as mudanças foram suficientes para dar fôlego ao modelo.
A estrutura mais robusta e complexa faz do Jeep o mais pesado do segmento, com 1440kg. O problema só não é maior por conta do câmbio automático de 6 marchas, que adia as trocas em busca da força que o motor só entrega acima das 3500 rpm. Não é a forma mais confortável de trabalhar, lembra o funcionamento de um câmbio de quatro marchas, não tem jeito. Apesar do casamento estável, o câmbio parece ser superior ao que o motor pode oferecer.
Apesar de preguiçoso, o conjunto chega a ser convincente para a proposta de SUV urbano. O Renegade 1.8 é um ótimo carro 1.6, com desempenho suficiente para o trânsito caótico das grandes cidades, onde vive-se em um rali de regularidade constante por causa dos radares de velocidade. Em situações que exigem força, como em ultrapassagens, é necessário cravar o pé no acelerador, esperar o câmbio reduzir as marchas e não ter pena de esgoelar o motor, afinal, a potência máxima só aparece às 5.250 rpm, enquanto todo torque está disponível às 3.750 rpm.
Em ciclo urbano e abastecido com etanol, o Renegade fez média de 7 km/l. É uma média ruim considerando seu desempenho, mas vale lembrar que estamos falando de um carro de quase 1,5 tonelada. Este é um bom álibi.
Onde o peso se esconde
A suspensão, apesar de firme, é bem calibrada para as crateras disfarçadas no meio do asfalto do nosso país e parece ter acerto melhor do que os concorrentes do segmento no quesito conforto. Não poderia ser diferente, já que usa sistema independente McPherson na frente e também atrás — mas com molas helicoidais e amortecedores montados na parte superior da estrutura, garantindo articulação das rodas em até 20,5cm. Consegue ser robusto como um SUV e confortável como um sedã, embora note-se bastante rolagem da carroceria em curvas. Se o motorista for além do limite, caberá ao controle de estabilidade com sistema ERM (Electronic Roll Mitigation), que detecta o risco potencial de capotamento do veículo, intervir força de frenagem para evitar o pior.
O interior do Renegade conquista. Painel emborrachado é algo incomum no segmento, bons encaixes dos plásticos também. Mas tudo é certinho no pequeno Jeep, e ainda tem vários easter eggs espalhados pelo interior e pela carroceria. Por exemplo, no quadro de instrumentos o conta-giros tem desenho que imita lama no lugar faixa vermelha que indica o limite de rotações do motor.
Bancos acomodam bem os passageiros, seja os da frente ou os que viajam atrás. O espaço interno é compatível com o segmento, tanto para as pernas, quanto para a cabeça, mas o porta-malas fica devendo. São apenas 260 litros, menor que o de um Fiat Palio. Ponto negativo.
Empacotado
O Jeep Renegade Sport tem em seu pacote padrão rodas de liga leve de 16 polegadas, airbags dianteiros, ar-condicionado manual, piloto automático, direção elétrica, sensor de estacionamento traseiro, freio de estacionamento elétrico, retrovisores, vidros e travas elétricos e alarme, além de alguns outros “mimos”. Também entram na conta os controles de estabilidade e tração, sistema anti-capotamento, assistente de partida em rampas, faróis e lanterna traseira de neblina, luz diurna e Isofix para fixação de assentos infantis.
Porém, se com o pacote básico a versão automática custa R$ 81.990 (contra R$ 74.990 do manual, com cinco marchas), um carro equipado com o avaliado, com central multimídia com câmera de ré, volante de couro (somando R$ 3.450), teto solar elétrico panorâmico (R$ 6.800) e pacote conforto (que inclui uma tomada de 127v no banco traseiro, retrovisores com rebatimento elétrico e banco do passageiro dobrável por R$ 1.300), chega aos R$ 93.540. É caro? Bastante, mas o principal concorrente, o Honda HR-V, custa praticamente a mesma coisa se desconsiderarmos o teto solar.
O Jeep Renegade não é dos mais baratos, nem o mais ágil e tampouco o mais econômico, mas é aceitável em tudo isso e ainda tem boas qualidades, como o pacote de equipamentos, a robustez e o ótimo acabamento. Fisga pelo lado não racional. Não foi à toa que o Renegade fechou o mês de Janeiro como quinto carro mais vendido do país, emplacando 4.991 unidades.
Dados da fabricante
Motor Quatro cilindros em linha, dianteiro, transversal, flex; Cilindrada 1.747 cm3; Potência 132 cv a 5.250; Torque 19,1 kgfm a 3.750 rpm; Câmbio automático, 6 marchas; Tração dianteira
Dimensões: 4,23 m; Largura 1,80 m; Altura 1,66 m; Entre-eixos 2,57 m; Porta -malas 260 l; Peso 1.440 kg.
Aceleração de zero a 100 km/h: 12,6 segundos com gasolina e 11,5 segundos com etanol
Velocidade máxima: 181 km/h com etanol
Origem: Goiana, Pernambuco