Por Fernando Miragaya, de Paris
Ame-o ou odeio-o, utilitário esportivo é vital para sobreviver e aparecer no atual mercado de automóveis. No Brasil, a Renault tem como cartão de visitas para esta nova era apenas o espartano Duster, que vem a ser projeto da romena Dacia. Como a marca francesa não é trouxa nem nada, mudará o rumo dessa prosa ainda esse ano com o Captur e, depois, com o Koleos, o jipão requintado que viemos conhecer e dirigir na França.
Com 4,67 m de comprimento, 1,84 m de largura e 2,70 m de entre-eixos, esta segunda geração do Koleos projetada na França e produzida na Coreia do Sul será praticamente a vitrine tecnológica da Renault no Brasil. Também será vitrine de design ao ser o primeiro Renault vendido no Brasil com o novo estilo da marca, definido pela grade dianteira que envolve o logotipo da Renault, pelos faróis com prolongamentos de LEDs e pelas lanternas que avançam sobre a tampa do porta-malas e quase se encontram.
Isso de ser vitrine e carro de imagem significa que o Renault Koleos também será o modelo mais caro do fabricante no País, com preços entre R$ 150 mil e R$ 160 mil quando começar a ser vendido, no início de 2017 – em versão única, com motor 2.5 a gasolina e tração 4×4.
Boas justificativas
Para justificar tamanha diferença para Duster e Captur (que surgirá no fim de 2016 com preços entre R$ 90 mil e R$ 110 mil), não basta ter tamanho. O Koleos se vale de várias virtudes, como a começar pela posição de dirigir, que garante conforto, ergonomia e ótima visibilidade de tudo que passa ao redor do veículo.
O volante pequeno e com base chata dá o toque arrojado, ao lado do quadro de instrumentos eletrônico configurável e da central multimídia R-Link, de segunda geração e tela vertical de 9” que faz as vezes de tablet. Além de ser fácil operar e ver funções como climatização, Bluetooth, câmera de ré e GPS, a tela está em perfeita harmonia com o acabamento caprichado do SUV.
Materiais suaves ao toque ditam os revestimentos de painéis e portas. Nem dá para comparar com qualquer padrão de acabamento de um Renault vendido no Brasil (nem mesmo o Fluence). Até o estribo fica escondido ao se fechar a porta, sem risco de sujar calças e vestidos quando você for ao casamento da sua prima. Olhar mais atento, contudo, encontrará soldas aparentes nos batentes das portas.
Entrar no utilitário é tarefa fácil. As portas têm ótimo ângulo de abertura (70 graus nas da frente e 77, as de trás) – este corpulento jornalista que vos escreve, curtiu. Atrás, o espaço de 28,9 cm para os joelhos permitem que três adultos “normais” se acomodem ali sem drama. Todos os bancos dispõem de aquecimento, sendo que os da frente ainda têm refrigeração e ajustes elétricos.
Tempero japonês
Todo esse conforto se reflete na direção do Koleos. O motor 2.5 16V a gasolina de 172 cv que equipa a configuração topo de linha dá conta de transportar os mais de 1.600 kg do SUV. Só não espere por desempenho instigante. A palavra de ordem do modelo é conforto até nisso, e para tal foi escalado o enfadonho câmbio do tipo CVT.
Mesmo com sete marchas virtuais e opção de mudanças sequenciais (apenas na alavanca), a caixa dá aquele tempero de sedã de marca japonesa. Você acelera fraco, a transmissão faz as mudanças de forma linear e gradativa. Você acelera forte, os giros sobem, o CVT segura e… faz as mudanças de forma linear e segura. É como se você tivesse um pedaço de carne angus, mas só optasse temperá-lo com tofu e linhaça.
De qualquer maneira, trata-se de um motor bastante interessante. Boa parte do torque de 23,76 kgfm já está disponível por volta das 2.500 rpm e se você souber lidar com o câmbio, aproveitará o melhor dele. Na hora de ultrapassar, desloque a manopla para as mudanças sequenciais, reduza na munheca e ultrapasse o caminhão nas estreitas estradinhas dos arredores de Paris sem sustos.
Na autopista, chegar a velocidades maiores também é fácil – só falta emoção. O legal é que o 2.5 trabalha de forma suave. A 90 km/h, marca 1.500 rpm. A 130 km/h permitidos na estrada, está em 2.100 rpm. Resultado: silêncio a bordo exemplar e consumo no computador de bordo de 10,2 km/l.
O comportamento dinâmico também agrada e privilegia o conforto a bordo. A carroceria torce dentro do esperado para um veículo de tais dimensões, enquanto a suspensão é curiosa. Na frente, com jogo McPherson, o motorista sente mais as poucas irregularidades do asfalto francês, enquanto o conjunto multibraço da traseira (o mesmo do Nissan X-Trail) lida bem melhor com isso.
Essa postura do Koleos fica ainda mais evidente no trajeto off-road preparado pela Renault no circuito da Ceram, em Mortefontaine, distante 45 km de Paris. Na terra fofa e nos buracos, os passageiros da frente sacolejam um pouco, enquanto os zequinhas no banco traseiro quicam bem menos.
O trecho fora de estrada mostrou que o Koleos, com opção de tração 4×4 sob demanda (até 50/50) e Lock (reduzida que bloqueia em 50/50), se sai bem na terra. Até porque o modelo ainda se vale de 21,3 cm de vão livre do solo, e ângulos de ataque de 19 graus e de saída de 26 graus.
Mas para deixar uma coisa bem clara. A pista off-road em questão estava mais para recreio do jardim de infância do que final de jogos estudantis. Uma inclinação de 45 graus, outra subida íngreme, terra fofa e o Koleos com reduzida acionada e primeira marcha engatada nem faz menção de ficar no caminho. E, vamos combinar: ninguém em sã consciência vai pegar os R$ 160 mil que gastou neste SUV urbano para chafurdar na lama.
Nem lá, nem cá
Com este porte, preço e proposta, o Koleos quer se posicionar num hiato de mercado entre crossovers médios e médio-grandes. É maior e muito mais bem equipado que Toyota RAV4, Honda CR-V e que a dupla coreana Hyundai ix35 e Kia Sportage. Porém, não chega a ser rival direto de modelos como Santa Fe e Sorento.
Em termos de equipamentos, contudo, tentará incomodar o andar de cima. Na segurança, sensor de ponto cego, alerta de fadiga do motorista, controle de cruzeiro adaptativo, assistente de partida em rampas e monitoramento de faixa (que solta um som de pum quando você vai para a pista sem dar a seta em vez de trepidar o volante) são alguns dos destaques.
O Koleos mais completo tem ainda som Bose com 13 alto-falantes, teto panorâmico, porta-copos refrigerados, sistema que abre a tampa do porta-malas ao se passar o pé por baixo do para-choque traseiro, partida remota na chave e à distância, volante com aquecimento, luzes configuráveis no ambiente, entre outras frescuras. Nada mal para quem quer mostrar que ainda faz modelos rebuscados.