Na Grécia Antiga, os Jogos Olímpicos eram uma celebração esportiva, mas também religiosa. O principal objetivo era homenagear Zeus. Nos tempos modernos, os esportes continuam no centro das atenções, mas os deuses deram lugar à lucratividade, com os vultosos contratos de patrocínio. E com a Olimpíada deste ano no Brasil, a Nissan espera fazer dinheiro. Tem no novato Kicks as maiores esperanças de conquistar algum ouro. Mas fez valer seu investimento como patrocinadora oficial do evento e transformou também o “experiente” March num importante competidor, com a série especial Rio 2016.
A versão é limitada a mil unidades. Baseado na configuração topo de linha, SL, o March Rio 2016 tem tudo que a gama oferece de melhor. Vem com todos os itens triviais, além da câmera de ré e ar condicionado digital. Mas na gorda lista de equipamentos de série, o que se destaca é a central multimídia Nissan Multi-App.
Para uma série em homenagem aos Jogos Olímpicos, a primeira coisa que se imagina é um carro com pegada esportiva. Mas não é bem assim. O conjunto mecânico é igual ao de qualquer outro March SL: motor 1.6, com 111cv de potência e 15,1kgfm de torque, acoplado a um câmbio de cinco marchas.
No March Rio 2016, toda a esportividade é mera estética. O trabalho é assinado pela Nissan Design America – Rio e é capaz de deixar até mesmo o March Nismo com inveja. Se destaca pelos detalhes na cor laranja, que aparecem nos spoilers dianteiro e traseiro, nas saias laterais, nas caixas dos retrovisores, nos adesivos com o nome da edição especial e num dos nichos da grade frontal, que traz o número de série do carro. Ao menos esteticamente, o hatch perde o jeito de “bom moço”. Aquela aparência pacata de mesatenista dá lugar a um olhar agressivo e imponente digno de um competidor de taekwondo.
Corpo de atleta
Nós andamos num March Rio 2016 preto. E o contraste deixou os adereços especiais ainda mais evidentes. Tanto que despertou um fenômeno antes improvável para o carro: as pessoas olham para você. Não foi raro também ouvir comentários. As bonitas rodas de liga leve aro 16 com acabamento escuro foram mais de uma vez elogiadas por ocupantes de carros que emparelhavam nos sinais ou congestionamentos. O proprietário de um March “convencional”, que desconhecia a série especial, chegou a perguntar onde o “hatch olímpico” havia sido “tunado”, para levar o dele.
O tratamento especial foi muito mais modesto no interior. A cor laranja aparece nas costuras dos bancos e também em bordados do logotipo “Rio 2016” nos tapetes e nos encostos dos assentos dianteiros. Mas os designers da Nissan parecem ter esquecido do volante, que é igual ao de qualquer outro March e merecia ao menos um revestimento com costura contrastante. Os revestimentos usam os mesmos plásticos, que não condizem com um carro tabelado em R$ 53.990.
Moderninho e funcional
A central multimídia Nissan Multi-App é um dos pontos altos da interatividade entre o condutor e o carro. Tem tela de 6,2″ e lembra a aparência de um tablete. Sai da fábrica com 13 aplicativos instalados. Mas a maioria deles é um tanto inútil e dificilmente será usada por alguém. Os destaques ficam por conta do navegador Waze e do Spotify, serviço de streaming de música digital. Mas apesar de o sistema ser independente, dispensando assim a necessidade de espelhamento de smartphones, você vai precisar do seu para rotear a internet via WiFi. A não ser que pague por um serviço adicional.
Todo o restante é como em qualquer outro March. Quase todos os comandos estão ao alcance do motorista. A ressalva fica para o controlador dos retrovisores, que embora não tenha difícil acesso, fica encoberto pelo volante. A altura do teto cria a sensação de um ambiente mais amplo, e ninguém precisa abaixar a cabeça para viajar no carro. Mas em trajetos longos a falta de espaço para as pernas – até mesmo do motorista – incomoda um pouco. Apesar do problema, comum em qualquer carro compacto, a sensação que dá é de que o hatch da Nissan é mais espaçoso que os rivais.
Ao volante
Os 9,3 segundos que o March leva para chegar aos 100km/h são bons, principalmente por estarmos falando de um carro sem qualquer pretensão esportiva no trem de força. O baixo peso faz com que o hatch tenha agilidade em quase todas as situações. Mas pelo fato do torque ser entregue somente às 4.500rpm, a hora de sair exige certa habilidade. É preciso “encher” bem o motor. Juntando isso ao câmbio com relações curtas, é possível extrair boas arrancadas, ainda que não tão empolgantes. O ponto negativo das marchas encurtadas é que perto dos 110km/h o ponteiro do conta-giros fica inquieto, ali na casa dos 3.200 giros. Já nas ultrapassagens e retomadas, com a rotação lá em cima, a “brincadeira” fica mais animada.
A suspensão é firme na medida certa. Mas numa tocada um pouco mais abusada, a carroceria pode inclinar. Não chega a incomodar a ponto de frear a empolgação, mas exige um pouco mais de atenção do motorista. A direção elétrica, gostosa na hora de realizar manobras, deveria ser mais progressiva. Ela se torna demasiadamente leve em velocidades mais altas. A empunhadura ruim, problema velho do March devido ao aro fino do volante, faz a direção parecer ter ainda menos peso.
A leveza excessiva para a estrada, no entanto, se torna confortável na cidade, quando dificilmente alcançamos velocidades altas. O March é gostoso de dirigir mesmo em vias congestionadas. As dimensões enxutas – 3,82m de comprimento e 1,67m de largura – facilitam a vida no meio urbano. Os impactos das precárias condições do asfalto brasileiro quase sempre são filtrados pelos amortecedores.
Vale a pena?
Conta a favor o fato de ser um carro bastante econômico. A Nissan diz que o modelo faz 14,5km/l na estrada. Para nossa surpresa, esse foi o consumo registrado na cidade, com trânsito intenso na maior parte do tempo e ar sempre ligado. Na estrada, o computador de bordo chegou a marcar bons 16,7km/l.
O March Rio 2016 custa R$ 53.990 na tabela. Considerando que o March 1.6 mais em conta custa R$ 46.190, quase R$ 8 mil a menos, e o SL é R$ 400 mais caro, não é tão assustador. Pela exclusividade de um modelo limitado (o nosso, por exemplo, era o número quatro de mil), valeria pagar um pouco mais. Porém, as vendas da versão não vão lá muito bem e ela já pode ser encontrada por R$ 49.990. Aí sim é um baita negócio…