Faz tempo que não podemos chamar os motores da Fiat de novos. Os E.TorQ têm origem nos Tritec, criados em 1997 em joint venture entre a Chrysler e a Rover (como subsidiária da BMW), e os Fire, embora existam no Brasil há apenas 15 anos, foram lançados na Europa em 1985. Vem daí a importância dos novos motores 1.0 três cilindros e 1.3 quatro cilindros Fire Fly, da família GSE, que a Fiat trata como projeto global mas que estreiam agora no Brasil com o Uno 2017. E têm características surpreendentes!
Os dois novos motores não só pertencem à mesma família, como têm o mesmo diâmetro de cilindro, curso dos pistões (70,0 x 86,5 mm) e compartilham entre si diversos componentes. O 1.3 é, basicamente, o 1.0 com um cilindro a mais. Os dois tem bloco e cabeçote de alumínio, e têm duas válvulas por cilindro, ou seja, temos aqui um 1.0 6V (como no primeiro Suzuki Swift vendido no Brasil) e um 1.3 8V.
Não os subestime. Com gasolina o motor 1.0 6V Fire Fly gera 72 cv (6.000 rpm) e 10,4 kgfm (3.250 rpm) enquanto com álcool são 77 cv (6.000 rpm) e 10,9 kgfm (3.250 rpm). Em outras palavras, é o 1.0 aspirado com mais torque no Brasil com a mesma potência do três cilindros do Nissan March. Já o 1.3 8V Fire Fly gera 101 cv (6.000 rpm) e 13,7 kgfm (3.500 rpm) com gasolina, enquanto com álcool são 109 cv (6.250 rpm) e 14,2 kgfm (3.500 rpm), superando o 1.4 8V do Chevrolet Onix e chegando bem perto do 1.5 16V do Ford Ka.
O diferentão
Embora o nome “Fire Fly” soe um pouco ridículo, a Fiat diz ter levado a sério questões como confiabilidade e eficiência enquanto buscava torque em baixa. Esta é sua justificativa para o uso de cabeçotes com duas válvulas por cilindro enquanto todos os concorrentes e todos os motores mais modernos têm quatro válvulas por cilindro. É uma arquitetura que favorece o surgimento de torque em baixas rotações sem grandes malabarismos, e a fabricante ainda diz que o fato de utilizar um comando único do cabeçote com variador de fase elimina atritos e perdas de energia com a movimentação de componentes do motor.
Mas este motor usa de outros truques. O sistema de injeção é o multiponto convencional, mas a Fiat diz ter posicionado válvulas e vela de forma que haja mais turbulência na câmara de combustão. Também garante que seu sistema de admissão é tão eficiente no enchimento dos cilindros quanto motores com quatro válvulas por cilindro. Fato é que não falta compressão ali dentro: a taxa de compressão é sempre de 13,2:1, que visivelmente favorece a queima de etanol.
Vale dizer que as velas são de Iridium e de 10mm, mais finas do que em qualquer outro motor Fiat, e cada uma têm bobina independente. Além disso, estes são os primeiros motores Fiat a eliminar o tanquinho de partida a frio por usar aquecimento dos injetores.
Outro truque está no variador de fase hidráulico continuamente variável. Permite que trabalhe com sistema EGR (de recirculação de gases de escape) por fechamento tardio das válvulas, o que, momentaneamente, faz este motor trabalhar em ciclo Miller. Evita-se perda por bombeamento quando o motorista dirige de forma suave, principalmente em baixas rotações. A economia que isso proporciona fica ao redor de 4 e 7%. Estes novos motores trabalham com comando por corrente, mas uma corrente mais silenciosa que as convencionais.
Também com o objetivo de reduzir o atrito, o centro dos pistões não fica alinhado com o centro do eixo do virabrequim, mas sim deslocado em 10 mm. Desta forma, é possível ajustar o ângulo entre a biela e o pistão de forma que se aumenta o apoio do pistão na parede do cilindro quando a força vertical é pequena ou se reduz o apoio no local quando a força vertical é grande, diminuindo a perda de energia.
Os acessórios dos motores Fire Fly também são otimizados. Enquanto o óleo é o fino 0W20, a bomba de óleo tem deslocamento variável, ou seja, altera o seu fluxo de acordo com a necessidade do motor. O filtro de óleo foi colocado bem na frente do motor, entre o cárter de aço estampado e o suporte do compressor do ar-condicionado, de forma a facilitar e reduzir o tempo de troca. Já o alternador faz a recarga da bateria apenas nos instantes em que a energia cinética do veículo seria desperdiçada, como nas desacelerações e reduções de velocidade, algo importante quando os motores 1.3 são dotados de tecnologia start-stop.
Resultados
A seguir estão os números de desempenho e consumo do Fiat Uno 2017 com os novos motores Fire Fly. Tire suas próprias conclusões.
Uno Attractive 1.0 6V Flex:
Desempenho | |
Velocidade máxima | 154 km/h (gasolina) / 157 km/h (etanol) |
0 a 100 km/h | 13,6 s (gasolina) / 12,5 s (etanol) |
Consumo | |
Ciclo Cidade | 13,11 Km/litro (gasolina) / 9,24 Km/litro (etanol) |
Ciclo Estrada | 15,14 Km/litro (gasolina) / 10,40 Km/litro (etanol) |
Uno Sporting 1.3 8V Flex:
Desempenho | |
Velocidade máxima | 177 km/h (gasolina) / 177 km/h (etanol) |
0 a 100 km/h | 10,8 s (gasolina) / 10,1 s (etanol) |
Consumo | |
Ciclo Cidade | 12,89 Km/litro (gasolina) / 9,17 Km/litro (etanol) |
Ciclo Estrada | 14,05 Km/litro (gasolina) / 10,14 Km/litro (etanol) |