Avaliação: VW Golf 1.0 TSI – Para despertar de qualquer estado de coma

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Nos anos 1980, Jô Soares interpretou o General, famoso pelo bordão “Me tira o tubo”. O militar despertou de um coma após o fim da ditadura e proferia a frase cada vez que o médico comentava notícias progressistas. Pois bem, se algum fã brasileiro do Golf despertasse de um coma de 18 anos hoje e soubesse que o hatch da Volkswagen tem uma versão 1.0 TSI provavelmente iria berrar o mesmo. Mas não há motivo para desespero.

Para início de conversa,o Golf “mil” é mais potente do que a versão 1.6. Com turbo, injeção direta e variação no comando de válvulas, são 125/116 cv de potência, contra 116/110 cv do único aspirado da linha. E os benefícios da tecnologia TSI neste hatch são logo percebidos – e divertidos.

Vire a chave e tenha uma grata surpresa de cara. Apesar de uma ligeira e discreta letargia, que não dura um segundo, o 1.0 TSI mostra sua força. A primeira marcha precisa ser bem esticada, e isso é bom, pois depois o carro deslancha com o bem escalonado câmbio manual de seis marchas.

Nem dá para reclamar de cansaço com a transmissão manual. Os engates certeiros e o curso curto da manopla realçam a esportividade que sempre se espera de um Golf. Nem mesmo o trânsito pesado da cidade faz você reclamar das mudanças.

Só não esqueça que o câmbio tem seis marchas. Com relações tão bem acertadas, motor de baixo atrito e isolamento acústico, é capaz de você pegar um túnel a 90 km/h permitidos em quarta e demorar a perceber. O conjunto não esperneia por trocas na caixa.

Na estrada, é possível esquecer de vez que se está a bordo de um carro com motor 1.0. Segundo a Volks, esse Golf cumpre o 0 a 100 km/h em 9,7 s, quando abastecido totalmente com etanol. Não duvide.

Até porque o drama da maioria dos carros “mil” não se repete neste caso. Graças ao turbo, a força do motor já está disponível em baixos giros. Antes mesmo das 2.000 rpm, e até pouco além das 3.500 rpm, você pode pisar que terá sempre respostas ágeis. Ótimo na hora de ultrapassar aquele caminhão mala na sua frente na serra.

Nas retas, as marchas maiores têm relações longas e a sexta funciona como um belo overdrive. A 110 km/h o conta-giros está abaixo das 2.500 rpm, a vibração é mínima e o consumo se mantém em 16 km/l no computador de bordo na maior parte do tempo – segundo o Inmetro, o hatch faz médias de 11,9 km/l na cidade e 14,3 km/l, na estrada, com gasolina, e respectivos 8,4 km/l e 10,1 km/l com etanol.

O caro leitor vai questionar se esse carro não tem qualquer defeito. Tem, sim. Poucos, mas eles existem. Em giros muito baixos é preciso atenção, porque o TSI carece de força. Por isso aquela esticada na primeira marcha sobre a qual falamos no início.

No mais, é aquele Golf com o qual o cara em coma sonharia por décadas. Construção impecável que deixa o hatch com estabilidade exemplar, suspensão que filtra bem os buracos – mas mantém a firmeza característica da linha – e posição de dirigir baixa e ergonômica para quem gosta de carro.

Ainda leva a vantagem de ser pouco mais barato que o irmão aspirado. Parte de R$ 77.247, enquanto o 1.6 custa R$ 78.130 na versão manual – só que já não há linha 2017 para ele nas revendas nem no configurador do site da VW. Porém, a TSI também não é o supra-sumo em equipamentos e se ressente por ser a versão de entrada da linha.

Tudo bem que o Golf Comfortline 1.0 TSI é vendido com sete airbags, controles de estabilidade e de tração, bloqueio eletrônico do diferencial, trio elétrico, sensores de obstáculos dianteiros e traseiros, ajustes de altura e profundidade do banco e do volante, direção com assistência elétrica, computador de bordo, entre outros.

Mas, para um carro que custa mais de R$ 70 mil, deve uma central multimídia mais transada – não tem espelhamento nem câmera de ré, apesar dos comandos no volante revestido de couro. Também merecia ar-condicionado automático. Além disso, o quadro de instrumentos é aquele visual previsível que você já viu em outros carros da VW, seja um Fox ou um Jetta…

Motorista e carona têm bom espaço para pernas e joelhos, além daquela posição mais baixinha bem legal do Golf. Contudo,quem vai atrás não pode se animar. Pessoas altas tendem a raspar os joelhos nos encostos da frente. E um terceira elemento ali, mesmo criança, ficará desconfortável.

O divertido e moderno TSI compensa. Até porque você não irá achar hatch médio mais barato que isso dando sopa por aí. Tudo bem que os rivais têm motores turbinados e são mais recheados e potentes, mas o Chevrolet Cruze Sport6 LT com o 1.5 turbo de 153 cv parte de R$ 91.890 e o Peugeot 308 Business 1.6 THP de 173 cv custa R$ 85.990. Mesmo o Ford Focus SE 1.6 aspirado começa em R$ 74.600. O nosso imaginário personagem em coma realmente iria arrancar os tubos. Só que para dirigir a versão 1.0 de seu carro predileto.

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