O caro leitor já deve estar cansado de o quanto reclamamos de câmbio automático obsoleto. Combinemos: ninguém merece um carro moderno, com motor cheio dos parangolés em tecnologia e redução de atrito, e com aquela caixa mais indecisa do que gordinho na fila do Burger King. Mas também damos o braço a torcer, como no caso do C3 com a transmissão de seis marchas.
Avaliamos a versão Exclusive, que deixou de lado o manjado câmbio de quatro velocidades AT8. É evidente, logo nas primeiras aceleradas, o salto no conforto e no desempenho com a nova caixa Aisin, a mesma usada em modelos médios da marca, como C4 Picasso e C4 Lounge.
Nas primeiras relações já é perceptível a maior agilidade nas trocas. O C3 flui bem no trânsito da cidade, principalmente em baixas velocidades, sem reduções constantes de marcha. Além disso, o rodar ficou menos áspero.
Resultado também do trato no motor 1.6 16V. Ele agora gera 115 cv com álcool e 118 cv, com gasolina, de potência máxima a um regime de rotação discretamente menor: 5.750 rpm. Antes, eram 115 cv a 6.000 rpm e 122 cv, a 5.800 rpm.
Além disso, segundo a Citroën, 80% do torque máximo de 16,1 kgfm com qualquer mistura no tanque está disponível já nas 1.500 rotações. Isso é percebido nas situações em que se precisa de força: ladeiras e ultrapassagens. O C3 responde prontamente, sem indecisões e sobe-e-desce frenético do conta-giros.
As aletas atrás do volante para as trocas sequenciais se tornam até dispensáveis. A não ser que você queira realmente “sentir o carro”. Aí, coloque o câmbio no modo Sport, que estica mais as marchas, e a viagem pode ficar divertida.
Se preferir conforto, mantenha o câmbio no modo Drive na estrada. Nota-se que o C3 melhorou também o nível de ruído, apesar de o isolamento acústico do compacto sempre ser um destaque. Para ajudar, o motor 1.6 trabalha abaixo das 3.000 rpm nos 110 km/h permitidos na rodovia Washington Luís.
No trânsito mais pesado da cidade, com a gasolina sendo cobrada em barras de ouro, opte pelo modo Eco, que promete 5% de economia. Mesmo assim, com muita dificuldade o computador de bordo do modelo avaliado marcou 10,0 km/l no tráfego urbano – pelo Inmetro, o C3 Exclusive 1.6 tem nota B e médias de 11,0 e 12,6 km/l com gasolina e de 7,9/8,8 km/l, com álcool.
Preços do C3 automático
Toda a linha 1.6 do C3 agora é vendida apenas com a caixa automática de seis marchas, a partir de R$ 55.990 na versão Attraction. A Exclusive avaliada custa R$ 65.490. Ar automático, direção elétrica, sensor de ré, cromados, controle de cruzeiro, sensores de luminosidade e de chuva, faróis de neblina e rodas de 16” fazem parte do pacote desta versão topo de linha.
Tem ainda a central multimídia de 7” e a bossa maior do hatch: o para-brisa Zenith. O vidro frontal que se estende além da coluna A passa uma sensação de amplitude e de visibilidade bastante interessantes.
Some a isso outras virtudes inerentes aos modelos da Citroën. A posição de dirigir deixa o motorista bastante à vontade e a estabilidade é eficiente – lembrando das quatro estrelas, no máximo de cinco, nos testes de colisão do Latin NCAP. Mas peca nos itens de segurança (só tem os obrigatórios airbag duplo e freios com ABS) e no acerto da suspensão, que bate seca em alguns buracos mais vilanescos da cidade.
O C3 também ficou com a vida mais difícil esse ano. A chegada do Argo trouxe capricho no acabamento para um compacto da Fiat e a versão Precision custa R$ 67.800, com motor 1.8 de 135/139 cv e caixa automática de seis marchas.
Tem ainda o novo Volkswagen Polo, cujo acabamento não inspira, mas que na configuração Comfortline 200 vem com o eficiente motor 1.0 TSI Turbo de 116/128 cv e um pacote de equipamentos mais interessante por R$ 65.190. A Citroën vai ter que buscar melhores argumentos para o C3.