Detalhes e equipamentos comprovam evolução do carro brasileiro
Vale à pena lembrar como hera o mercado de compactos em 2007, quando este blog nascia. É um exercício de reflexão que faz qualquer um notar como o segmento mais importante do mercado evoluiu nos últimos anos. Neste meio tempo, uma nova safra de compactos chegou às lojas com projetos modernos e repletos de tecnologias de segurança e entretenimento. Pena que ainda não deu tempo para estes se espalharem pela concorrência.
Estes destaques dizem respeito a soluções antigas, mas que só agora começam a brotar em carros menores. Um bom exemplo é o novo Ford Ka, que chega às lojas em setembro sobre uma plataforma global e com direito a controles eletrônicos de tração e estabilidade, e assistente de partida em rampa de série em sua versão topo de linha SEL. Herança do Fiesta.
Tudo bem, o Volkswagen Fox Highline 2015 também tem controle de tração e o de estabilidade é opcional, assim como os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, inéditos no segmento – e ainda raro em muitos carros de segmentos superiores. Só que ele ainda usa uma plataforma antiga, ao contrário do Up!, baseado na NSF, novinha e exclusiva para compactos. Nela há aços de alta e ultra resistência e até prensados a quente. O resultado disso nós vimos quando ele mediu força com um obstáculo fixo nos testes de colisão do Latin NCAP: o habitáculo ficou intacto e, no fim, recebeu cinco estrelas em segurança. E olha que os controles eletrônicos, de série na Europa, nem figuram entre os opcionais no Brasil…
O Fiat Uno não é lá tão novo, fez quatro anos em maio. Mesmo assim, em setembro ele chegará às lojas reestilizado e com primazia entre os nacionais ao equipar a versão Evolution com Start&Stop, aquele sistema que desliga o carro quando parado em sinais, por exemplo. É uma forma de economizar combustível que lá fora descobriram há décadas, mas só cruzava os oceanos em carros, no mínimo, três vezes mais caros.
Só que o Uno reestilizado não vai tão bem na questão multimídia. Até tem câmera de ré, mas as imagens são exibidas no retrovisor interno. Seu rádio sequer tem tela sensível ao toque e deve GPS. O Fox tem tudo isso concentrado numa central multimídia opcional, mas a do Up! até dá informações sobre o modo de condução e consumo. Nenhum é tão bom de usar como o MyLink do Chevrolet Onix, que permite conectar 5 smartphones, ativa apps do dispositivo e exibe vídeos. O defeito deste está em depender do aparelho telefônico para fazer o GPS funcionar e de um módulo opcional para ter TV. Isso não acontece nos Hyundai HB20 com a central multimídia herdada da série Copa do Mundo. No Nissan March a central multimídia é capaz até mesmo de acessar o Facebook.
O HB20 também tem câmbio automático de verdade, com quatro marchas, assim como Peugeot 208 e Citroën C3. Isso significa que é deveras melhor que um automatizado, claro, mas fica atrás do câmbio do Onix, que tem seis marchas – permitindo que o motor 1.4 seja explorado da melhor forma, sem ser sufocado como os 1.6 coreanos e franceses. E vale lembrar que o Fox é o único com câmbio manual de seis marchas.
Entre as amenidades, detalhes como porta-luvas e porta-malas com iluminação são bem vindos. Porém, luz nos parassóis ainda é raridade. O Toyota Etios não tem nada do que falamos até agora mas, ao contrário do Corolla, por exemplo, tem porta-luvas refrigerado. Também é o único com espelhos retrovisores com regulagem elétrica nos retrovisores em todas as versões (o Ka não tem nem como opcional). O Renault Sandero, também criado como um carro de baixo custo, é o único que abre mão de vareta para segurar o capô. A função recai sobre uma mola a gás, coisa chique que o Ka+ (sedã) usa para sustentar a tampa do porta-malas.
Sensor crepuscular é legal, mas até o Chevrolet Agile tem, bem como o piloto automático, sempre raro em carros com câmbio manual. Já os sensores de chuva costumam ficar restritos a versões topo de linha, ou figurar como opcionais, como ocorre com Volkswagen Gol e Fox, e Fiat Palio. Nos três, estão associados ao espelho retrovisor eletrocrômico, coisa que o Chevrolet Monza já oferecia há 20 anos e ainda soa como excentricidade.
Ainda é mais fácil ver um unicórnio do que encontrar um Palio com seus airbags laterais opcionais. Por sorte – ou não – ainda não vi. Convém lembrar que o Ford Fiesta Titanium, mais completo, possui sete airbags. Este também tem com ar-condicionado digital, como os grã-finos 208 e C3, e como o Nissan March, que convive com o povão.
Pegue estes pontos fortes do segmento, coloque no liquidificador até a mistura ficar homogênea, deposite numa forma untada e leve ao forno pré-aquecido a 200° por 30 min. O resultado será o compacto que todo mundo gostaria de ver sendo fabricado no Brasil. Investigando você verá que os compactos equivalentes estrangeiros oferecem quase tudo isso no mesmo case. Isso significa que nossos carros estão no caminho certo, mas ainda há alguns degraus pela frente. E é bom lembrar que, até mesmo lá fora, todos estes equipamentos têm impacto direto no preço. Nem tudo é perfeito.