Com visual renovado, minivan ainda peca nos detalhes
Não é completamente descabida a comparação entre carros e música. Temos obras primas musicais que nos remetem a carros memoráveis, assim como alguns exemplares sobre rodas não deveriam existir, em paralelo com músicas que nos fazem sangrar os ouvidos. A J6, com roupa nova para 2014, se assemelha com boa parte do que temos ouvido nas rádios: para o povo, mas querendo imprimir um algo a mais para seu usuário. Será que ela está afinada com seu público?
O exemplar chinês, que sofre pela primeira vez um facelift desde que chegou a nosso mercado, em 2011, é único no mercado assim como música chinesa. Não estamos loucos: Com entre-eixos de 2,71 m e comprimento total de 4,55 m, não concorre diretamente com nenhum modelo, tendo em vista a aposentadoria da Chevrolet Zafira, sua principal concorrente, assim como do Renault Scénic, e que o Citroen C4 Picasso se distancia pelo preço. O JAC J6 parte de R$ 57.990 na versão de 5 lugares e R$ 59.990 para mais dois passageiros, estando posicionada acima de Chevrolet Spin e Nissan Grand Livina. São oferecidos seis anos de garantia, que trazem tranquilidade ao comprador junto às 65 autorizadas da JAC em solo nacional.
O JAC J6 2014 se apresentou para nós num trajeto de aproximados 180 quilômetros, um bate e volta entre a capital paulista e o Guarujá. Ainda no ponto de partida, uma análise estática do carro. Com bom ângulo de abertura das portas, não é nenhum sacrifício entrar no veículo, tanto para o motorista quanto para os demais passageiros. O porta-malas, de excelente tamanho, que varia de 198 litros com a terceira fileira de bancos disponível até mais de 2.000 com todos os bancos da segunda e terceira fila rebatidos, algo interessante para aqueles que levam consigo o mundo ao sair de casa. De quebra, o novo visual fez bem à minivan. Abrindo mão do excesso de curvas e rebuscamento, o novo conjunto óptico aliado a um novo para-choque e grade completamente diferentes na dianteira, assim como o uso de lanternas de desenho mais austero na traseira, deram um ar mais sofisticado ao carro sem pesar na harmonia do conjunto. A seção intermediária permanece intocada, mas não compromete no conjunto, que por fim está mais belo que seu antecessor.
Em matéria de equipamentos, nada mal. Há ar-condicionado digital e rádio com CD e entrada USB, vidros, travas e retrovisores elétricos, faróis com acendimento automático, direção hidráulica, freios ABS com EBD, airbag duplo, faróis de neblina dianteiros e traseiros e sensor de estacionamento. É dada a partida rumo ao litoral. Logo de cara fica evidente um problema recorrente dos chineses que é a grande vastidão de materiais utilizados no interior, nem sempre resultando em combinações felizes. Se, por um lado, detalhes como o acabamento em black piano dos puxadores de porta combinam com as maçanetas cromadas, o mesmo material não fica bem no console, que pode ser riscado facilmente.
Ponto positivo é o espaço interno, adequado para cinco adultos, mas um pouco acanhado na última fileira, que é bom apenas para crianças. Ao se rebater o encosto do banco central, encontramos um revestimento em baixo relevo para se colocar quaisquer objetos, assim como porta-copos, que são muito rasos e não parecem tão eficientes. Poderia ser melhor, sem dúvidas. Ao menos os dois difusores para os passageiros da parte de trás ajudam a amenizar o ambiente, dada a grande volumetria interna do veículo. Bons também são os bancos, de densidade adequada e com bom acabamento em termos de revestimento e costuras. A distância para pernas e ombros também é elogiável, condizente com o segmento em que se insere. Tendo assumido o comando do carro, logo de antemão percebe-se a melhora no volante, com novo formato, aro mais grosso e agora revestido em couro, que era ponto crítico no veículo antes da reestilização. Entretanto, a iluminação em azul ainda provoca confusão na vista do condutor. Bem equipada, tem ergonomia apenas mediana, em que um útil comando de som no volante convive com regulagens escondidas de altura dos faróis e funções do hodômetro, sendo complicado zerar o mesmo, por exemplo. Alcançar a posição de dirigir é fácil, embora haja apenas regulagem em altura do sistema de direção.
Nos primeiros movimentos já se percebe que o J6 se comporta bem no ambiente urbano, sem grandes dificuldades, mas também sem ser um foguete. A despeito do peso, que é de 1.500 kg quando vazio (e nós éramos quatro homens, logo uma boa massa extra), e da coluna “A” típica de monovolumes – sempre condenável -, os retrovisores bem posicionados de ajuste elétrico e a grande área envidraçada ajudam nos movimentos pela cidade. A suspensão, McPherson com molas helicoidais na frente e Dual Link na traseira, também com molas em espiral, absorvem bem as irregularidades do solo, bem como no asfalto irregular do litoral paulista, e promovem desempenho adequado na estrada, mas sem grandes dotes dinâmicos. É um veículo de caráter familiar, perfeitamente compreensível.
O motor, um 2,0 litros à gasolina de fabricação própria da JAC, entrega 136 cv a 5500 rpm e 19,1 kgfm a 4000 rpm, dá conta do recado, mas não empolga. Com velocidade máxima de 183 km/h, chega aos primeiros 100 km/h aos 13,1 segundos. Se por um lado a J6 mantém velocidade de cruzeiro de forma natural nos trechos planos e retoma de forma agradável nessas situações, a entrega de potência e torque em altas rotações dificulta um pouco o trabalho em trechos de aclividade. Subindo a Imigrantes, entre Cubatão e São Bernardo do Campo, a falta de elasticidade exige frequentes reduções de marcha para que os 100 km/h máximos da via fossem mantidos à risca. Sob forte neblina, ponto positivo é o conjunto de faróis e lanterna de neblina, de grande valia nestas situações e de fácil acionamento. Com freios a disco nas 4 rodas, com ABS e distribuição eletrônica de frenagem (EBD), o veículo responde bem às solicitações de frenagem quando exigido. A direção, leve, é um pouco vaga, mas longe de se sentir ao comando de uma nau à deriva. O câmbio, manual com 5 velocidades e relações longas, também possui bons engates, curtos e com bom “feeling” no seu acionamento. O isolamento acústico é bom, tanto para a rodagem quanto para o motor, que se não soa como uma melodia também não ecoa no habitáculo. O sistema de som é um ponto crítico em outros JAC, e continua sendo no J6, com péssima recepção e qualidade sonora. A conclusão é que a J6 ainda desafina em itens interessantes, mas é uma cantora em potencial com as devidas correções, cantando um gênero em que poderia reinar de forma indiscutível. Mas, no estágio atual, ainda é passível de melhoras.