“O VTi despertou minha paixão pelas quatro rodas”
Lá estava ele. Dois faroletes reluzindo o brilho furtado do sol. Era azul. Mas não qualquer azul. Azul bonito, sabe? Nem claro, nem escuro, esportivo, feroz. Mal sabia eu do tamanho da importância que um veículo poderia assumir na vida de um homem – não tardaria desde então a descobrir.
Ele era usado. Ousado. Tão baixinho… minunciosamente cheio de detalhes; daqueles que qualquer um investiria toda a paciência em descobrir cada botãozinho. Era apaixonante. E eu me apaixonei. Assim como um adolescente pronuncia seu "eu te amo" ao seu primeiro e puro amorzinho inesquecível da vida. Meu filho atendia por VTi. Nome completo: Honda Civic VTi. Nascido em 1994, eram 160 cv. Eram 1120 kg. Não era pouca coisa para um jovem pai com menos de 20.
Ah… lembro-me como se fosse hoje daquela linda música tocada pelo comando variável de válvulas. Eu também era cauteloso – não deixava arranhar nem dos lados, nem embaixo! Possa ser que exista uma linha tênue separadora do cuidado e da neurose: eu a cruzava a toda hora. Em estacionamentos, eu preservava meu carro bem longe dos outros para que as portas desavisadas não o alcançassem. Em lombadas, as ultrapassava com o carro um pouco acima da inércia. Uns denominam exagero; Eu chamo de zelo.
Eu gostei muito daquele carro. O tempo que compartilhei minha vida com ele foi bem especial. Éramos cúmplices e o automóvel me deu felicidade. O VTi despertou minha paixão pelas quatro rodas. Depois eu tive outros. Alguns outros. E terei mais. Muitos mais. Entretanto, certamente, ele não sairá das minhas impregnadas ainda manias de passar a 5 km/h nos quebra-molas, de desviar dos buracos e imperfeições do asfalto. E nem de escolher as minhas vagas onde aquelas portas desatentas possam ferir minha pintura. Obrigado, meu filho.
Por Thiago Ramos