Compacto ganha fôlego, mas mantém deficiências
Há algum tempo, a expressão “carro de entrada” causava até arrepios em quem a ouvisse. Mas isso está mudando de alguns anos para cá e isso em muito se deve aos chineses. O JAC J2 é um grande – não no sentido literal – exemplo de que o carro mais barato de uma marca não precisa ser necessariamente “pelado”, mas também não são perfeitos.
O J2 já passou pela nossa garagem há dois anos, mas agora é vendido com versão flex do motor 1.4 16v (na verdade, 1.3), com fôlego extra. Está mais caro, custa R$ 37.990. Não chega a ser ruim diante de versões equivalentes de Volkswagen Up e Ford Ka, que ainda têm a desvantagem do motor 1.0.
“Agradável” é a palavra que melhor define o visual do J2. A dianteira apela para a temática dos carros chineses “fofos”, como Chery QQ e Geely GC2 (ou Panda), com os faróis em formato de gota. Atrás, o exagero das lanternas também é tipicamente oriental. O para-choque estreou junto com o motor flex e os sensores de estacionamento são de fábrica, e bem úteis num carro com vidro traseiro tão pequeno. As chamativas faixas e o teto com cores invertidas são opcionais – para o alívio de muita gente.
O interior não mudou, manteve algumas deficiências. A aparência geral é interessante no primeiro contato, com profusão de formas redondas à Mini Cooper. Qualidade dos plásticos, porém, passa bem longe do compacto inglês: rígidos e brilhantes, rendem reflexos no para-brisa quando sob sol forte, atrapalhando a visão. Os apliques imitando fibra de carbono no console central, no quadro de instrumentos e nos puxadores de portas são interessantes, mas também não convencem e se mostram frágeis. As maçanetas têm seu charme, mas o pomo do câmbio prata não parece original do carro.
O quadro de instrumentos evoluiu em relação ao J2 a gasolina. Tem nova iluminação branca com possibilidade de regulagem da intensidade, mas ainda peca por não oferecer um computador de bordo e pelo marcador de combustível com funcionamento um tanto romântico: parece que se move como girassóis, seguindo o sol ao longo do dia – não de forma linear, entretanto.
Outras soluções do J2 são, no mínimo, estranhas. O ar-condicionado, apesar de eficiente, é prejudicado por não ter saída central. Tudo bem, ela até existe, mas fica na parte de cima do painel e, assim como no Volkswagen Up, leva o ar direto para o… espelho interno. O porta-luvas nada mais é que um nicho aberto, sem tampa, como em um Renault Twingo.
Os comandos dos retrovisores elétricos parecem perdidos na porta do motorista, onde deveria ficar os controles dos vidros, que foram instalados no console (os quatro juntos, causando confusão nos primeiros dias). E não há como deixar de falar do volante, com grande área para ativar a buzina: uma esbarrada numa curva e lá se vai uma buzinada sem querer. Aliás, o volante tem regulagem de altura e o quadro de instrumentos se movimenta junto, num bloco único.
Limpadores de para-brisa? Só um, como no Toyota Etios. Limpador do vidro traseiro? Não tem. O som, como no Toyota, só sai da parte dianteira do carro. E o aparelho não tem Bluetooth, só uma entrada mini-USB, que requer um cabo adaptador para ser usada com um pen drive. Ruim mesmo é a qualidade sonora, algo comum a todos os JAC que já avaliamos.
Os bancos, revestidos com tecidos simples, são confortáveis. Apesar dos pedais muito próximos do motorista, há bom espaço na frente. Mas não esperava nada do espaço no banco traseiro: é apertado, como não poderia deixar de ser em um carro com 2,39m de entre-eixos (é 1cm menor que um velho Fusca). O porta-malas do Fusca também era maior: 140L contra 121L do J2.
Muito fôlego
É em movimento, porém, que o chinesinho mostra sua vocação. Apesar da posição de dirigir incômoda, muito alta e inclinada, o J2 é muito divertido. A direção leve no limite e o bom – mas barulhento, mesmo que não seja um problema neste caso – motor 1.4 VVT JetFlex de 113cv de potência e 14,4kgfm de torque – quando com álcool -, rende acelerações e retomadas rápidas. O entre-eixos curto colabora para a impressão de agilidade em manobras ágeis.
Tudo isso, porém, tem um preço: consumo médio de 8km/l (com etanol). Com tanque de apenas 35 litros, a autonomia fica comprometida. Isso não é defeito em um carro urbano, porém, como não há computador de bordo, a impressão que se tem é que o J2 é um alcoólatra inveterado. Aliás, fica a dica: é normal ver fabricantes aumentar o tanque de combustível para mudar essa percepção de consumo.
O escalonamento do câmbio foi aprimorado na versão flex do modelo, encurtando a distância entre as marchas. Contudo, os engates barulhentos são os mesmos que se escuta em outros JAC. A suspensão, por sua vez, destoa da dinâmica do modelo. É macia, mas com curso pequeno, o que faz com que o J2 pule ao passar por irregularidades no asfaltos.
No quesito segurança, apenas o trivial: freios ABS com EBS e airbag duplo frontal. O cinto de segurança central traseiro não é de três pontos e não há pontos de ancoragem IsoFix para cadeirinhas de crianças.
Mesmo com novo motor, o JAC J2 JetFlex se mostrou um modelo que vive em dois mundos diferentes. É um carro que consegue ser compacto, ágil e recheado de equipamentos, mas com excentricidades que podem ser vistas como falhas. Difícil é entender que, no fundo, o que ele quer é divertir. E diverte. Questão de prioridades.
Ficha técnica
MOTOR: flex, quatro cilindros, 16V, 1332cm³, potência de 110cv/113cv (a 6.000rpm) e torque de 14,17kgfm/14,48kgfm (a 4.500rpm) (gasolina/álcool).
TRANSMISSÃO: câmbio manual de cinco marchas.
TRAÇÃO: dianteira.
SUSPENSÕES: independente McPherson na dianteira e independente com barra de torção na traseira.
FREIOS E PNEUS: discos dianteiros e tambores traseiros; 175/60 R14.
DIMENSÕES E PESO: 3,53m (compr.), 2,39m (e.e.), 1,47 (alt.) e 1,64 (larg.); 915 quilos.
PORTA-MALAS: 121 litros.
TANQUE DE COMBUSTÍVEL: 35 litros.
DESEMPENHO: 0 a 100km/h em 9,7 segundos e velocidade máxima de 187km/h.
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