Dois Prius e duas equipes disputando números de consumo
Estar ao volante do híbrido mais vendido do mundo em uma das estradas mais belas do Brasil e, de quebra, participar de um desafio que poderia estar em um episódio épico do Top Gear. Essa foi a experiência que vivi durante o Toyota Prius Experience. O carro por trás disso, claro, é o Toyota Prius, que já teve mais de 5,2 milhões de unidades vendidas desde 1997.
A premissa básica de um carro híbrido – que usa motor elétrico para economizar os esforços do motor a gasolina – é aproveitar ao máximo cada litro de combustível que entra no tanque. E o primeiro desafio era ir do Rio de Janeiro até São Paulo gastando o mínimo de gasolina possível. Fomos em duplas. Meu companheiro de viagem foi o Marcio Cimatti, do A Janela Laranja. No outro carro, Bernardo Bauer, do Pardal Carioca, e Rodrigo Bastos, do Big Sense.
O desafio começa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com destino a Paraty. O cenário da viagem seria a belíssima Rio-Santos, que margeia o litoral e surpreende com paisagens de tirar o fôlego mesmo com o tempo nublado. Mas vou de carona nesta primeira perna e até chegar à estrada só há trânsito. Em perímetro urbano, com sinais de trânsito e velocidade máxima de 60 km/h, o híbrido japonês se vê em seu habitat: média de consumo surpreendente de 19km/l.
É pouco, mas facilmente explicável. Na cidade o motor 1.8 a gasolina de 99cv e 14,5kgfm é coadjuvante. É para sair da imobilidade que o motor gasta mais gasolina, por isso, cabe ao elétrico de 82cv e 21kgm mover o carro em baixas velocidades. É normal que híbridos sejam mais econômicos na cidade do que na estrada, ao contrário dos carros normais.
Mas o destino do primeiro dia é Paraty. E o percurso é cheio de trechos de subida e de velocidade baixa por conta de pequenas cidades. Para ganhar velocidade o Prius não abre mão do motor a gasolina, que faz questão de mostrar trabalho com seu barulho natural. No fim, a impressão que se tem como carona é que se está em um hatch médio. E mesmo com o peso extra das baterias, instalados no assoalho, pesa 1.415kg – o mesmo que um Chevrolet Cruze.
Fiquei com a leve sensação de que o consumo do Prius está atrelado ao som que o motor emite: quando mais barulho, mais aceleração e consumo maior. Mas não chega a ser algo absurdo, beira a casa do 15 e 16km/l, na estrada. Mas é uma boa diferença em relação ao perímetro urbano inicial e poderia usar este feeling a nosso favor.
Ao chegar em Paraty, conseguimos acionar o tão aguardado modo elétrico, EV. Ao longo da viagem, as baterias foram recarregadas pelo motor a combustão e pelos freios regenerativos, tecnologia semelhante ao Kers, da Fórmula 1, que permite armazenar a energia perdida nas frenagens. Agora a carga armazenada garante até 30km de autonomia 100% elétrica, desde que não passe dos 50km/h. Com o motor elétrico atuando, o silêncio reina. Mas se exigir mais força ou a carga acabar, o motor a gasolina entra em ação novamente. No painel, um desenho mostra qual motor está sendo utilizado no momento.
E isso logo aconteceu. Passeando pela cidade histórica, de repente o motor a combustão volta a funcionar e um aviso no painel informa que a bateria estava com pouca carga e o modo EV seria desativado. Ficamos sem entender, mas seguimos até o destino, visto que a hora estava passando e a fome era cada vez maior.
Após o almoço, conversando com a dupla concorrente, ficamos sabendo que o carro deles também não rendeu o esperado no modo elétrico e que também não haviam conseguido transitar na cidade, mesmo com a bateria no máximo e a prometida autonomia de 30 km.
Comando no joystick
Hora da segunda perna da viagem e de assumir o volante rumo à Ubatuba. A posição de dirigir é boa e privilegia o conforto e aproveitei para reparar nos detalhes do interior do Prius. O painel é alto e envolve os ocupantes, a instrumentação é 100% digital e exibe diversos gráficos auxiliares para a condução, e ainda tem um head-up display exibindo a velocidade no campo de visão do motorista. Mas nada é tão curioso quanto a lavanca de câmbio. Alavanca não, joystick. É bem pequeno e diferente, mas com posições normais de um câmbio automático. Acabam-se aí as coisas interessantes. Os bancos são de couro e os plásticos de acabamento são duros. De boa qualidade, mas duros. Como em um Corolla.
Minha maior estranheza foi com o acelerador. Tão anestesiado que chega a dar nervoso, mas por trás disso está a proposta de carro eficiente, de apetite moderado. Não é que o carro seja preguiçoso ou demora a acordar. Ele apenas está evitando um consumo desnecessário, e este cenário só muda se você cravar o pé. O que prejudicou um pouco a média de consumo foi o primeiro trecho praticamente inteiro escalando a serra.
O acerto dinâmico do carro é bom, mesmo utilizando pneu finos para diminuir o atrito com o asfalto e ser mais econômico. Não fez feio nas curvas, embora a carroceria rola um pouco. É correto para a tocada mansa do carro. A ideia não é ter comportamento esportivo, embora a direção, firme e bem direta, faça você pensar o contrário.
Após a serra, mais uma parada para medir o consumo das duplas e pé na estrada novamente. Desta vez na rodovia Castelo Branco, com seu limite de 110km/h. Se por um lado era bom pra sentir o potencial do Prius, por outro, era terrível para o desafio de economia. O marcador de combustível caia na mesma proporção que a velocidade aumentava. Ficou bem claro que até os 90km/h o Toyota Prius vai muito bem. Passando disso, fica bem claro o esforço do motor a gasolina para manter a velocidade.
Depois do sufoco, chegamos na Marginal Tietê, com seu novo limite de velocidade. Se tem alguém que é feliz na faixa de 50km/h, este alguém é o Toyota Prius. Assim que a velocidade caiu, o consumo voltou a melhorar – e a impressionar. E cruzando a cidade antes de chegar no ponto final do desafio veio a certeza de que o Prius é um carro extremamente urbano.
Desafio concluído. Hora de checar o consumo. Se na serra e na autoestrada a média caiu para 14/15km/l, na cidade o consumo chegou aos 19km/l! Isso sem muito esforço, apenas seguindo o fluxo de carros. Confesso que fiquei bastante impressionado. Após 12 horas de viagem, fomos descansar para a segunda etapa, que aconteceria no dia seguinte.
Poder da mente
Um autorama montado em um shopping paulistano seria o palco do segundo desafio. Até aí, tudo certo. Brinquei muito em autoramas. A diferença foi o controle dos carrinhos: nada de controlar o botão da pistolinha para não deixar o carro sair da pista… Este autorama era controlado pela força do pensamento. Não levei fé no início, pensei que fosse algo armado, mas logo que começaram os testes, fiquei surpreso!
Cada pessoa consegue desenvolver um tipo de pensamento que pode fazer ou não o carrinho ir mais rápido. É complicado, mas neste desafio eu e minha dupla conseguimos os melhores tempos e fomos os campeões. Mas ainda ficou faltando o resultado da etapa anterior.
Após a verificação, a direção avisou do empate. Após alguns minutos de tensão, ficou decidido que as duas duplas seriam consideradas campeãs, tendo a minha vencido o desafio do autorama e a outra vencido o desafio do consumo por pouco.
No final, o resultado foi o que menos importou. Conhecer o Prius mais a fundo foi uma grande experiência. Carros como o Prius podem ser o futuro dos carros com motor a combustão. E a Toyota promete melhora-lo com a nova geração que está a caminho. Aguardemos!
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