A Honda já prepara uma mudança na linha de carros no Brasil. A fabricante japonesa vai renovar alguns modelos e reduzir a gama no país. As informações são de Pedro Kutney, em reportagem publicada no Automotive Business, parceiro do Primeira Marcha.
A renovação da linha de carros da Honda no Brasil passa pela troca no comando da filial sul-americana da empresa. Desde 1º de abril, a operação é chefiada pelo japonês Atsushi Fujimoto, que já começou a preparar o plano de renovação completa da marca na região.
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Segundo ele confirma, a marca deverá passar por uma redução no número de modelos produzidos nas duas fábricas da empresa em Sumaré e Itirapina, ambas no interior paulista.
Substituindo o brasileiro Issao Mizogushi que ficou sete anos à frente dos negócios na América do Sul, Fujimoto afirma que todos os produtos serão renovados seguindo os padrões e tendências globais de segurança, meio ambiente (eletrificação) e conectividade, conforme o plano estratégico recentemente divulgado pela companhia.
Em seu primeiro encontro com jornalistas brasileiros, Fujimoto afirmou que serão feitos novos investimentos nos lançamentos previstos, mas não revelou valores nem modelos, evitando confirmar ou negar as informações veiculadas na imprensa que até o fim do ano a empresa deverá deixar de produzir no Brasil o sedã Civic e o hatch Fit, ao mesmo tempo em que lançará o novo City nas versões hatch e sedã, além de lançar renovações do HR-V e do WR-V.
“Teremos de fazer investimentos, que ainda não podemos divulgar, para lançar novos produtos que vão seguir a mesma estratégia global da Honda de segurança, meio ambiente e conectividade. Não posso adiantar nosso programa de lançamentos, mas está nos planos a redução da linha de carros”, afirmou Atsushi Fujimoto.
O executivo acrescentou que a empresa pretende continuar a operar no Brasil com as duas fábricas, Sumaré e Itirapina, que juntas têm capacidade para produzir 240 mil veículos por ano em dois turnos, “o que no momento é mais que suficiente para o que precisamos”, disse.
Desde 1992 vendendo automóveis no Brasil (já foram 2 milhões desde então) e desde 1997 com produção local em Sumaré, a Honda conquistou boa reputação entre os brasileiros e cresceu significativamente durante os anos 2000, formando filas de espera pelos seus carros, mas a partir de 2016 reduziu ambições, manteve pronta para funcionar e fechada por três anos a nova fábrica de Itirapina.
Com produção abaixo da demanda e poucos lançamentos de expressão, a linha de carros da Honda começou a perder terreno. Em 2020 foram vendidos 84 mil automóveis Honda no Brasil, em queda de quase 35% sobre 2019 (muito acima da retração média de 27% do mercado), deixando a marca apenas na nona posição entre as mais emplacadas com 4,3% de participação.
Este ano houve expansão de 20% nas vendas com 33,7 mil emplacamentos de janeiro a maio, ainda assim abaixo do crescimento médio de 31% do mercado no mesmo período.
Fujimoto reconhece o desempenho fraco e explica que foi um problema global da empresa, que nos últimos anos passou uma reestruturação para recuperar sua rentabilidade, o que incluiu o fechamento de algumas fábricas no mundo, como no Reino Unido e na vizinha Argentina. “Somos conservadores, mas pretendemos voltar a crescer com o nosso plano estratégico”, prevê.
O plano foi divulgado recentemente pelo CEO mundial Toshihiro Mibe – que assim como Fujimoto assumiu o posto em abril passado –, com os compromissos de meio ambiente e segurança que envolvem a partir de 2040 a produção apenas veículos zero-emissão elétricos (BEVs a bateria ou FCEVs com células de hidrogênio) e até 2050 eliminar mortes em acidentes em veículos Honda por meio da introdução massiva de sistemas de assistência à condução (ADAS) e direção autônoma.
“No Brasil e na região seguiremos esses mesmos objetivos”, garante o CEO da Honda South America.
Na rota da eletrificação, já está agendada para este mês a chegada ao mercado brasileiro do sedã Accord Híbrido importado do Japão.
Será o primeiro da linha de três carros híbridos da Honda prometidos para o Brasil até 2023 – o que comprova que o País até pode seguir as mesmas tendências globais da empresa, mas o ritmo planejado é bem mais lento. “Também vamos aumentar o grau de conectividade de nossa linha deste ano em diante e o pacote Honda Sensing (de sistemas ADAS de segurança ativa) já presente nos (importados) Accord e CR-V serão introduzidos em todos os modelos da marca aqui”, afirma Fujimoto.
Momento difícil no Brasil
Desde 1986 trabalhando na Honda, Fujimoto atuou principalmente nas áreas de vendas e planejamento de produto e tem larga experiência internacional, mas sempre na Ásia, onde ocupou posições de liderança fora do Japão na Malásia, Tailândia e China.
É a primeira vez na América do Sul e o executivo reconhece as dificuldades do cenário local, mas também vê oportunidades: “Chego em um momento especial em que a Honda comemora 50 anos de atividade no Brasil, onde começou a vender motos importadas em 1971. Estou ciente do cenário econômico brasileiro e nós temos de ser cautelosos. Há desafios, mas também há oportunidades”, avalia.
“Nossos negócios foram severamente impactados pela pandemia e agora lidamos com o problema da falta de semicondutores para produzir. Por isso é muito difícil fazer qualquer previsão de crescimento. Mas temos de ser flexíveis com os altos e baixos da economia e focar na nossa estratégia de longo prazo. Nessa perspectiva, confiamos no potencial do mercado brasileiro e vamos continuar a investir”, destaca Atsushi Fujimoto.
Para o executivo, a pandemia, a falta de microchips e os significativos aumentos de custos das matérias-primas para produzir são os principais problemas a enfrentar no momento. “Mas, por outro lado, felizmente a demanda no Brasil ainda é forte no Brasil, é um ponto positivo”, pondera.
O cenário no segmento de motos é melhor, reconhece Fujimoto. A marca é líder absoluta com cerca de 80% das vendas no mercado brasileiro. A fábrica da Honda em Manaus (AM) inaugurada em 1976 já produziu mais de 25 milhões de unidades, tem capacidade para produzir cerca de 1 milhão/ano e entre 2019 e este ano recebeu investimentos de R$ 500 milhões.
No entanto, ao longo do último ano a planta precisou ser paralisada diversas vezes por causa do agravamento da pandemia no Amazonas, atualmente também enfrenta os problemas da falta e encarecimento de insumos que vem causando interrupções na produção.
“A recuperação do negócio de motos é mais rápida e mais consistente. O setor ganhou relevância com o aquecimento dos serviços de entrega. Este mês ultrapassamos a média de 4 mil unidades vendidas por dia, o melhor resultado desde 2015”, revela Fujimoto, que também é presidente da Moto Honda da Amazônia.
“Entretanto, temos de continuar investindo em produtos. Nossas prioridades são liderar o crescimento do mercado de scooters, manter a posição de líder absoluto entre os modelos de baixa cilindrada e crescer no segmento de alta potência, onde ainda temos muitas oportunidades”, resume.