Empresa, que teve 44% do mercado nos anos 1960, vai fechar 3 fábricas de uma vez no país.
Em mais de 100 anos de atuação no mercado brasileiro, o capítulo escrito nesta segunda-feira (11) certamente é o mais triste da história da Ford do Brasil.
A empresa, que se estabeleceu como a primeira fabricante de automóveis do Brasil em 1919, anunciou que não vai mais fazer veículos em solo nacional. Em vez disso, vai seguir trazendo modelos de países como Argentina, Uruguai, Canadá, México, Estados Unidos e China.
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Seus carros nacionais, Ka, Ka Sedan e EcoSport, sairão de linha assim que os estoques acabaram. Eles foram responsáveis por 120 mil dos 140 mil exemplares comercializados pela Ford no ano passado.
Fim melancólico
O anúncio desta segunda-feira é a continuação de uma decadência que começou anos atrás.
Em 2019, ano que deveria ser de celebrações por conta do centenário da empresa no Brasil, a Ford deu o primeiro sinal de que as coisas não iam bem ao anunciar o fechamento da histórica fábrica de São Bernardo do Campo (SP), onde estava desde os anos 1960.
Agora, outras três unidades se juntarão aos galpões do ABC Paulista, como a memória de uma empresa que esteve durante décadas entre as maiores fabricantes de veículos do Brasil.
Pioneira do Brasil
No passado, a Ford fechava fábricas porque inaugurava novas unidades. Hoje, resta a história.
Foi assim com a primeira delas, na Rua Florêncio de Abreu, no centro de São Paulo, inaugurada em 1º de maio de 1919, com investimentos de US$ 25.000.
A Ford ficou pouco tempo nessa primeira sede. No ano seguinte, se mudou para galpões maiores, na Praça da República, onde também não se fixou.
Com o aumento da demanda por veículos, a fabricante acabou precisando de instalações maiores. E as encontrou no bairro do Bom Retiro, onde construiu uma fábrica que era uma cópia em escala da sede, nas proximidades de Detroit.
A fábrica da rua Sólon existiu até 1953, quando a Ford deu outro salto, com uma moderna e ampla fábrica no bairro do Ipiranga, também em São Paulo.
Auge da empresa
Quase 10 anos depois, em 1962, a Ford tinha 44% do mercado brasileiro. Assim, em 1967, decidiu comprar a Willys-Overland, assumindo a fábrica de São Bernardo do Campo.
Em 1969, construiu um moderno centro de pesquisa e desenvolvimento no bairro vizinho à fábrica do ABC Paulista.
Ainda em alta, a Ford inaugurou mais uma fábrica no Brasil. Desta vez, a expansão foi no interior de São Paulo, com a unidade de motores em Taubaté (SP).
Casamento com a VW e ida à Bahia
Já na década de 1980, Ford e Volkswagen decidiram formar uma aliança, com a criação da Autolatina. A holding previa o compartilhamento de plataformas e motores.
Na prática, modelos semelhantes, mas com diferenças estéticas eram oferecidos ao público. O controverso casamento durou até 1995, quando a Ford percebeu a necessidade de investir para entrar no terceiro milênio.
Os dois anos seguintes marcaram uma forte renovação na linha da Ford. Em 1996, surgiu o compacto global Fiesta, sucesso de vendas, Já em 1997, foi a vez de o Ka ser lançado.
Ambos eram produzidos na fábrica de São Bernardo do Campo.
Em 2000, a Ford decide trocar a unidade do Ipiranga por uma nova fábrica em Camaçari, na Bahia, que seria inaugurada no ano seguinte. Foi a primeira fábrica de carros na região Nordeste.
Enquanto isso, a empresa decide migrar a produção de caminhões para o ABC Paulista.
Em poucos anos, Camaçari se tornou a principal fábrica da Ford no Brasil, herdando os projetos da já obsoleta planta de São Bernardo.
Até esta triste segunda-feira, foram feitos no local mais de 3 milhões de veículos. Agora, esse é um capítulo da história da Ford no Brasil.