Volkswagen Caminhões e Ônibus. Assim mesmo, em português. Esse é o nome da empresa responsável por produzir no Brasil os maiores veículos Volkswagen do mundo e exportar para cerca de 30 países.
A empresa nasceu em 1981, e está completando 40 anos com uma jornada incomum na indústria automotiva. Apesar de carregar o nome alemão Volkswagen, tem sede no Brasil. Faz parte de um grupo que também contempla fabricantes centenárias como Scania e Man.
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E, quando se viu sem fábrica, em meados dos anos 1990, usou, da forma mais positiva do termo, o “jeitinho brasileiro” para se reinventar e criar um modelo único de produção.
No vídeo acima e nos parágrafos abaixo você vai conferir um pouco sobre a história da Volkswagen Caminhões e Ônibus, parte dela contada pelo seu próprio CEO, Roberto Cortes.
Primeiros anos
Curiosamente, a história da divisão de caminhões da Volkswagen começa em 1979, com a compra de 67% de uma outra marca, a norte-americana Chrysler, que já fabricava os caminhões Dodge no Brasil desde 1968.
Um ano depois, a Volkswagen adquiriu controle total sobre a Chrysler, e, em 1981, mudou o nome da empresa para Volkswagen Caminhões.
Nesse mesmo ano, surgiram os dois primeiros modelos, 11.130 e 13.130. Eles eram inspirados nos caminhões europeus da Man e já traziam a cabine avançada, que se tornaria popular anos depois com o apelido de “cara chata”. Nessa época, os “bicudos” de cabine semiavançada ainda eram preferência do público.
Anos depois, a Volkswagen expandiu a linha, chegando a produzir até um raro caminhão movido a etanol, como já contamos aqui.
Em 1984, a Volkswagen firmou acordo com as fabricantes norte-americanas Kenworth e Peterbilt para exportar caminhões do Brasil para Estados Unidos e Canadá.
Nos anos seguintes, 13.210 e 22.210 foram enviados para a América do Norte. Por lá, ganharam novos nomes: Kenworth K300 e Peterbilt PT 270.
Autolatina e dilema da fábrica
No final dos anos 1980, com a formação da Autolatina, o “casamento” entre Volkswagen e Ford, a produção de caminhões foi concentrada na fábrica do Ipiranga, na zona Sul de São Paulo.
A unidade, construída e operada pela Ford, era uma das fábricas de caminhões mais modernas do mundo na época.
A joint-venture durou até 1995. Quando houve a separação, a Ford seguiu produzindo caminhões para a Volkswagen. Só que a empresa precisava encontrar uma alternativa. Foi aí que surgiu a ideia que mudou o status da Volkswagen Caminhões no Brasil.
Consórcio modular
“Eu diria que é uma oportunidade única você ter a possibilidade de fazer algo totalmente novo. Nós optamos por um conceito de produção totalmente revolucionário em vez de seguir o modelo tradicional de produção”, disse Roberto Cortes, CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus em entrevista exclusiva ao Primeira Marcha.
Assim surgiu o Consórcio Modular, que levou colocou os fornecedores dentro da fábrica, participando ativamente da montagem dos veículos, em vez de apenas fornecerem os componentes.
“Os negócios de caminhões e ônibus não têm uma produção em massa, um caminhão é diferente do outro. Você ter os fornecedores dentro da sua fábrica, como parceiros, faz com que você tenha muito mais agilidade e consiga fazer o produto do jeito que o cliente quer”, completou o executivo.
Hoje, são 8 parceiros, que atuam nas áreas de carroceria, pintura, eixos, suspensão e conjunto mecânico.
Além da forma de produção, a localização da fábrica também foi algo incomum para a época. A cidade escolhida para abrigar a Volkswagen Caminhões e Ônibus foi Resende, no sul fluminense.
“Quisemos quebrar alguns paradigmas. Isso em 1995, 1996, a indústria automobilística estava localizada em São Bernardo e mais um ou outro lugar. Rio de Janeiro não era um lugar considerado para ter uma indústria automobilística”, ressaltou Cortes.
Na época, Scania e Mercedes-Benz produziam seus caminhões em São Bernardo do Campo (SP).
“O eixo São Paulo-Rio, com uma estrutura logística e uma infraestrutura muito boa em Resende. Esse foi um fator determinante para ter a fábrica lá”, completou. A cidade fica a 180 km do Rio de Janeiro e a 280 km de São Paulo.
A fábrica foi inaugurada em 1997, e ajudou na expansão da empresa no Brasil.
Não ter uma matriz em outro país ainda facilitou a vida da Volkswagen Caminhões na hora de desenvolver novos produtos, já que o único compromisso é atender aos clientes locais, sem as preferências de consumidores estrangeiros.
Assim, nasceu o famoso slogan da empresa: Menos você não quer, mais você não precisa.
Expansão internacional
Já no começo dos anos 2000, a Volkswagen Caminhões iniciou um plano de expansão internacional. Em 2003, foi anunciada a construção de uma fábrica em Puebla, no México. A inauguração aconteceria no ano seguinte.
Em 2005, mais uma fábrica no exterior. Dessa vez, na África do Sul, onde ocorre um processo de SKD, quando os veículos são enviados semidesmontados para a finalização da montagem.
Atualmente, a Volkswagen Caminhões e Ônibus atua em cerca de 30 países das Américas do Sul e Central e da África.
“Assim com a Scania está baseada na Suécia e tem uma presença mundial, a Man, na Alemanha, com presença mundial, porque nós, baseados no Brasil, não podemos ter uma presença mundial? O Brasil, por maior que seja, se tornou pequeno para a marca Volkswagen Caminhões e Ônibus”, conta, orgulhoso, Cortes.
Desde 2018, a Volkswagen Caminhões e Ônibus faz parte do Grupo Traton, holding criada para concentrar as fabricantes de caminhões do grupo Volkswagen. Além da empresa brasileira, a sueca Scania e a alemã Man faz parte do conglomerado.
Caminhão elétrico e Meteor
Os mais recentes capítulos da história da empresa são o lançamento do e-Delivery, primeiro caminhão elétrico desenvolvido e produzido no país, e o Meteor, o maior veículo Volkswagen já produzido no mundo.
O primeiro deles foi apresentado, ainda como conceito, em 2017. Pouco tempo depois, entrou na fase de testes, entregando bebidas da Ambev nas ruas de São Paulo. Dois anos e meio e mais de 30 mil km depois, a produção teve início em Resende poucas semanas atrás.
Já o Meteor é o novo caminhão extrapesado da marca. Ele foi lançado em setembro passado, baseado no Man TGX. Com ele, a Volkswagen Caminhões e Ônibus alcançou o marco de 1 milhão de veículos produzidos nesses 40 anos de vida.